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A história do Fado e como ouvi-lo ao vivo em Lisboa

Woman holding a guitar against a red backdrop, wearing earrings and a striped top.

 

O Fado é a canção e música mais emblemática de Lisboa. Reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, este género musical nasceu nos bairros mais antigos da cidade e cresceu até se tornar num símbolo da identidade portuguesa. Costuma ser associado à saudade, esse sentimento tão português que mistura desejo e nostalgia. Mas dizer que o Fado é apenas tristeza seria redutor. Mais do que tudo, o Fado é uma forma de contar histórias e de dar voz à alma e ao sentimento. Dá voz ao quotidiano, com narrativas de marinheiros e amores perdidos, mas também com reflexões sobre as lutas e a resiliência das comunidades trabalhadoras lisboetas.

Existem, na verdade, duas grandes tradições distintas de Fado em Portugal. Coimbra tem o seu próprio estilo, o Fado de Coimbra, ligado à vida universitária, interpretado quase exclusivamente por homens, com afinações diferentes da guitarra e um repertório mais académico, num estilo mais operático e semelhante a uma serenata. Mas é a versão de Lisboa que se tornou a referência internacional e que passou a ser sinónimo da cultura portuguesa. É nesse Fado que nos vamos aqui focar.

Imagem de capa Isabel Pinto no Wikimedia

 

Person singing on stage with arms raised, wearing large earrings and a flowing outfit.Imagem cortesia de CM Oeiras

 

O que começou em tabernas e vielas no século XIX chegou mais tarde às salas de concerto e aos palcos internacionais, graças a figuras como Amália Rodrigues (1920-1999, na foto acima). Hoje, o Fado vive em dois mundos ao mesmo tempo. Mantém-se fiel à tradição em Alfama e na Mouraria, mas também se reinventa com artistas contemporâneos como Mariza (na foto abaixo), que trazem influências modernas sem perder a essência do género.

 

Person with short hair in white shirt posing with hand near face.Imagem cortesia de VT News

 

Para quem visita Lisboa, o Fado é uma das experiências culturais mais imersivas que pode ter. É verdade que pode ouvir esta música noutros lugares do mundo, mas aqui há todo um ritual que a envolve. As noites de Fado vêm muitas vezes acompanhadas de vinho e comida, seja um menu fixo numa casa de Fado tradicional, seja apenas uma bebida numa taberna de bairro. Onde quer que o ouça, há uma regra que nunca muda: quando o canto começa, faz-se silêncio. Como dizemos em Portugal, “silêncio, que se vai cantar o fado”…

 

As origens do Fado

O Fado ganhou forma em Lisboa durante a primeira metade do século XIX, numa cidade cheia de marinheiros, estivadores, migrantes vindos das zonas rurais de Portugal e pessoas em trânsito dentro do império português. As primeiras referências fiáveis ao Fado datam das décadas de 1830 e 1840, sobretudo na Mouraria e em Alfama. Nessa altura, não era apresentado em salas de concerto, mas sim em espaços do quotidiano como tabernas, pequenos convívios e outros lugares ligados à vida de rua lisboeta.

No início, o Fado era mais um estilo híbrido do que um género consolidado. O consenso mais forte hoje situa o seu nascimento numa mistura multicultural, juntando tradições afro-brasileiras de canto e dança como o lundum, o estilo de salão modinha que circulava entre Portugal e o Brasil, influências de canções narrativas ibéricas, repertórios rurais portugueses trazidos para a capital por migrantes internos e as modas cosmopolitas da canção urbana do início do século XIX. Em suma, foi a multiculturalidade de Lisboa que tornou o Fado possível.

O Fado acontecia de forma espontânea em contextos de convívio, tanto dentro como fora de portas, em jardins, estalagens de beira de estrada, recintos tauromáquicos, vielas, tabernas, cafés e nas chamadas casas de meia porta (associadas à prostituição). Eram ambientes sociais populares e mistos, onde música, dança e conversa se cruzavam livremente. Foi nesse espaço de lazer da classe trabalhadora que o repertório se foi moldando.

 

A woman in a red skirt listens to a man playing a guitar in a rustic room.Imagem cortesia José Malhoa no Wikipedia

 

Rapidamente surgiram figuras que entraram para a mitologia do Fado. Maria Severa Onofriana (1820-1846), conhecida simplesmente como Severa, tornou-se a fadista icónica ligada à vida noturna e aos circuitos de prostituição da Mouraria. A sua vida curta e a história de “rapariga pobre que se apaixona por fidalgo” cimentaram a imagem pública do Fado como veículo de histórias de amor e desventura, enraizando-o em ruas e mundos sociais muito concretos de Lisboa. A lenda de Severa é parte história, parte mito, mas confirma as raízes boémias e marginais do Fado, longe dos salões da elite.

A par da música, começou também a surgir uma estética própria. Os primeiros fadistas vestiam-se de forma simples e discreta, quase sempre de negro, imagem que evoluiu para o xaile preto sobre os ombros da mulher, ainda hoje a imagem de marca das fadistas. Os homens, por seu lado, apresentavam-se de fato, de postura ereta e expressão séria, reforçando a dignidade e a carga dramática que o Fado exige.

 

Person playing a Portuguese guitar on stage under dim lighting.Imagem cortesia de Musicália de Torres Vedras

 

Com o tempo, a instrumentação tornou-se mais específica. O Fado podia ser cantado a capela ou com acompanhamento de viola, mas a meio do século XIX já se tinha consolidado a formação que hoje define o género, e que consiste num cantor acompanhado pela viola (guitarra clássica) e pela guitarra portuguesa (na imagem acima). Esta última descende de instrumentos europeus antigos como a cítara e a guitarra inglesa do século XVIII, mas foi adaptada em Portugal com afinações distintas em Lisboa e em Coimbra. O seu timbre metálico e brilhante e a ornamentação intricada tornaram-se o som característico do Fado.

 

Group of people in vintage attire playing music and socializing in a rustic bar setting.Imagem cortesia de Bem Vindo a Lisboa

 

Os historiadores não chegam a acordo sobre uma narrativa única para a origem do Fado. As explicações mais antigas procuravam causas isoladas, fosse uma herança mourisca, fosse uma tradição de marinheiros ou de origem rural. A historiografia mais recente, porém, defende uma génese mais complexa, numa cidade em constante transformação, alimentada pelo tráfego atlântico e pelas migrações internas, onde trocas afro-luso-brasileiras, práticas populares de canto e dança e novas culturas de entretenimento urbano se misturaram dando origem a algo distintamente português.

 

A ligação do Fado aos bairros de Lisboa

Se o Fado é a música e a canção de Lisboa, pode dizer-se que cada um dos bairros típicos da cidade contribuiu de forma diferente para o género, deixando uma marca que ainda hoje se sente.

Alfama é muitas vezes apontada como o berço do Fado, e com razão. Este bairro ribeirinho, marcado por ruelas íngremes e pela presença constante do Tejo, foi em tempos lar de estivadores, marinheiros e varinas. As partidas e regressos dos homens do mar, as separações e reencontros, serviram de inspiração para as canções de saudade e de anseio que definem tantas letras de Fado. No século XIX, a música não estava confinada ao palco. Os vizinhos juntavam-se em pátios, e o canto erguia-se das tabernas, ecoando naturalmente pelo labirinto de calçada. Alfama ainda hoje cultiva essa tradição, sendo aqui que se encontram algumas das casas de Fado mais respeitadas da cidade (verique mais adiante as nossas sugestões). E todos os anos, em junho, quando as festas populares do Santo António tomam conta do bairro, o som do Fado mistura-se com o fumo das sardinhas assadas na rua.

 

Colourful street mural with people, crow, and 'Fado Vadio' in letters.Imagem cortesia de Time Out Lisboa

 

A Mouraria ocupa talvez o lugar mais romântico na mitologia do Fado. Foi aqui que viveu Maria Severa, a cortesã que se tornou cantora e cuja vida breve, nos anos 1840, se transformou em lenda. Personificava o espírito cru do Fado inicial, cantando amores e desventuras nas tabernas da Rua do Capelão, onde ainda hoje fazemos uma das paragens de degustação no nosso Passeio Raízes de Lisboa, Gastronomia e Cultura. O seu romance com o Conde de Vimioso criou o arquétipo da fadista condenada, apaixonada, marginal e muito memorável. A própria Mouraria sempre foi um cruzamento de culturas. Na Idade Média, era o bairro mouro; mais tarde tornou-se lar de imigrantes vindos de África, da Ásia e do interior de Portugal, diversidade que alimentou as raízes híbridas do Fado. Hoje, essa identidade continua visível. Na Rua do Capelão, a série fotográfica Retratos de Fado, de Camilla Watson homenageia grandes fadistas de outras gerações, da Severa a vozes contemporâneas, onde à entrada da rua uma guitarra portuguesa esculpida em pedra ergue-se como monumento, saudando quem entra no bairro. A Mouraria conserva ainda pequenas tabernas e bares onde o Fado se canta de forma mais informal, por moradores e vizinhos, mantendo vivo o ambiente dos encontros de rua onde tudo começou.

 

Group of people posing around a table in a vintage setting with a guitar and a leg of ham.Imagem cortesia de Restos de Colecção

 

O Bairro Alto representa outra etapa do percurso do Fado, quando finalmente entrou na vida pública de forma mais ampla. No final do século XIX e início do século XX, este bairro boémio, repleto de tipografias, tabernas e mais tarde de clubes noturnos, tornou-se palco de um Fado mais profissionalizado. Escritores, artistas e jornalistas acorriam ao bairro, fascinados por uma música que antes tinham desprezado como vulgar. Surgiram as casas de Fado, espaços organizados onde os cantores atuavam para um público disposto a pagar e onde se consolidaram regras como o silêncio e os espetáculos mais estruturados. Algumas das casas mais famosas de Lisboa, como a Adega Machado ou O Faia, ainda hoje aqui se encontram, mantendo esse estilo mais lapidado. Atualmente, o Bairro Alto continua a ser um paradoxo, sendo um dos bairros de vida noturna mais agitada da cidade, com bares a transbordar para as ruas, mas também lar de algumas das casas de fado mais sérias de Lisboa. Basta entrar numa delas para que o ruído lá fora desapareça, quando as luzes se apagam e os primeiros acordes da guitarra portuguesa fazem silêncio absoluto na sala.

 

A evolução do Fado até aos dias de hoje

Das tabernas para o palco

No virar do século XX, o Fado já não era apenas o som das tabernas e ruelas de Lisboa, e começava a afirmar-se como uma verdadeira profissão. Os cantores, conhecidos como fadistas, passaram a atuar em cafés, teatros e nas casas de Fado emergentes, levando o género dos encontros informais para espaços mais estruturados. Esta mudança deu ao Fado uma nova visibilidade, transformando-o de simples entretenimento de bairro em instituição cultural.

Foi também nesta altura que o conjunto de Fado se normalizou: uma atuação típica passou a incluir um cantor acompanhado pela guitarra portuguesa e pela viola (guitarra clássica). Por vezes acrescentava-se a viola baixo, para dar mais profundidade. Este trio, simples mas poderoso, estabeleceu a base que continua a ser o coração do Fado até hoje.

Ao contrário de muitas outras tradições musicais, o Fado raramente gira em torno de um único intérprete que escreve e canta as suas próprias composições. Muitas vezes, a música parte de fados tradicionais, ou seja, melodias e progressões de acordes já estabelecidas, que servem de base para inúmeros intérpretes. Sobre essas estruturas familiares, poetas e letristas criavam novas estrofes, e músicos compunham por vezes melodias adicionais. Isso significa que o mesmo Fado pode existir em múltiplas versões.

 

Three musicians perform on stage, with two playing guitars and one singing.Imagem cortesia de Eventualmente Lisboa e o Tejo

 

Entre as primeiras estrelas que marcaram esta época destaca-se Alfredo Marceneiro (1891-1982, na foto acima), muitas vezes considerado o mestre do Fado lisboeta. Conhecido pela sua forma única de frasear e por cantar com subtileza em vez de potência, deu ao género uma dignidade serena que influenciou gerações. A sua contribuição foi tão marcante que algumas formas de Fado passaram a ser conhecidas como fado marceneiro.

Também os instrumentistas ganharam protagonismo. A guitarra portuguesa, com a sua ressonância metálica e som ornamentado, tornou-se estrela por mérito próprio graças a músicos como Armando Augusto Freire (1891-1946), conhecido como Armandinho (ver vídeo abaixo), que definiu padrões técnicos e expressivos no início do século XX. O seu trabalho, juntamente com o de outros virtuosos, afirmou a guitarra portuguesa não apenas como acompanhamento mas como voz igual à do cantor.

O Fado durante a ditadura do Estado Novo

As décadas da ditadura do Estado Novo de António de Oliveira Salazar (1933-1974) foram decisivas para o Fado. O regime reconheceu rapidamente o seu potencial como emblema cultural e integrou-o nos atualmente chamados “Três Fs” –  Fado, Futebol e Fátima –  promovidos como pilares seguros da identidade portuguesa. Sob esta estratégia, o Fado foi elevado a símbolo nacional, mas sujeito a forte controlo.

As letras passavam pela censura. Canções que abordassem política, pobreza ou injustiça social raramente eram aprovadas, enquanto aquelas que falavam de destino, resignação, valores familiares e a noção romântica de saudade eram incentivadas. Para os críticos de esquerda, isto transformava o Fado na música do regime, uma espécie de banda sonora para a submissão. Mas, mesmo neste clima de repressão, muitos fadistas usaram metáforas e duplos sentidos para iludir os censores. O que parecia à superfície uma simples canção de amor podia ser lido como crítica velada à opressão, prova de que o Fado nunca foi totalmente instrumentalizado pelo sistema.

 

Singer performing with a guitarist; a woman is seated looking on in a vintage setting.Imagem cortesia de La Razón

 

Foi também neste período que surgiram alguns dos maiores nomes do Fado. Amália Rodrigues (1920-1999), conhecida como A Voz de Portugal, iniciou a sua carreira nos anos 1940 e tornou-se a face do género dentro e fora do país. Com a sua poderosa voz contralto e presença dramática em palco, levou o Fado das tabernas lisboetas aos grandes palcos do mundo. Amália introduziu poesia no Fado, colaborando com escritores como David Mourão-Ferreira e Alexandre O’Neill, e não teve receio de experimentar arranjos orquestrais ou influências do flamenco e da música latino-americana. As suas digressões internacionais nas décadas de 1950 e 60 transformaram-na em embaixadora de Portugal, embora continuasse a ser figura controversa no país pela sua associação a um regime que muitos contestavam.

 

Formal man in suit looks up. Text: Fernando Mauricio, Fado é Canto, with song titles on album cover.Imagem cortesia de Spotify

 

Mas Amália não esteve sozinha. Fadistas como Fernando Maurício (1933-2003), apelidado de Rei do Fado, personificaram o estilo cru e emotivo dos bairros de Lisboa, sobretudo da Mouraria onde nasceu e morou até falecer. Lucília do Carmo (1919-1998), uma grande voz feminina da época, manteve viva a tradição, e o seu filho Carlos do Carmo (1939-2021) tornar-se-ia mais tarde uma das figuras mais influentes do Fado contemporâneo.

O lado instrumental também floresceu. Guitarristas como Jaime Santos (1909-1982) e José Nunes (1899-1931) elevaram a guitarra portuguesa a novos patamares técnicos, deixando de ser apenas acompanhamento para assumir protagonismo musical.

Os anos do Estado Novo deixaram, contudo, um legado ambíguo. Por um lado, o Fado ganhou projeção nacional e internacional. Por outro, a sua associação à censura e à propaganda lançou uma sombra que demoraria a dissipar-se após o fim da ditadura.

 

O Fado no cinema e nos media

Se as casas de Fado e os teatros deram ao género os seus palcos, foram o cinema e a rádio que levaram o Fado ao quotidiano dos portugueses. As décadas de 1930 e 40 foram a idade de ouro dos chamados filmes de fado, melodramas populares onde os cantores encarnavam personagens que viviam, amavam e sofriam ao som da guitarra portuguesa.

 

Vintage movie poster for 'A Severa' featuring a woman in traditional attire playing a guitar.Imagem cortesia de CineCartaz

 

O primeiro filme sonoro português, A Severa (1931), definiu o tom – e pode ser visto na íntegra gratuitamente no Youtube. A obra dramatizava a vida trágica de Maria Severa, consolidando a sua imagem como heroína fundadora e primeira grande diva do Fado e a Mouraria como bairro mítico. A fórmula revelou-se irresistível, e as escadarias e tabernas de Alfama, as vielas da Mouraria e os recantos boémios do Bairro Alto tornaram-se cenários para histórias de amor e perda, com o Fado como centro emocional.

Mesmo filmes que não eram estritamente sobre Fado, como o clássico A Canção de Lisboa (1933 – ver vídeo acima), não resistiram a incluí-lo. Passado na Mouraria, o filme apresenta cenas de taberna em que as personagens irrompem em canto, sublinhando como o Fado estava entranhado no imaginário popular lisboeta.

 

Black and white image of a man and woman embracing, with the woman smiling slightly.Imagem cortesia de RTP

 

Nos anos 40 e 50, Amália Rodrigues protagonizou vários filmes que a transformaram num ícone tanto do cinema como da música. Obras como Capas Negras (1947) ou Fado, História d’uma Cantadeira (1947) fundiam enredo com performance, garantindo que milhões passavam a associar a imagem de Lisboa à sua voz. Estes filmes, ainda que sentimentais e estilizados, contribuíram para espalhar o som do Fado muito para além das casas lisboetas.

A rádio amplificou este efeito. Com a generalização das emissões nacionais, os fadistas tornaram-se nomes familiares e os solos dos guitarristas reconhecidos em todo o país. Para muitas famílias, ouvir programas semanais de Fado era tão comum como ir à missa. Mais tarde, a televisão continuaria esta tradição, consolidando figuras como Amália, Fernando Maurício e Alfredo Marceneiro na memória coletiva. Assim, a meio do século, o Fado era já o mais forte símbolo cultural de Portugal.

 

O Fado após a revolução dos cravos

A Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura do Estado Novo, foi um ponto de viragem para o Fado, mas não foi fácil. De um dia para o outro, a forte associação do género ao regime tornou-se um fardo. Muitos revolucionários e jovens portugueses rejeitavam o Fado por ser “a música de Salazar”, considerando-o demasiado marcado pelo fatalismo e pela resignação para traduzir a energia de um país em reinvenção. Nos anos imediatamente seguintes, as canções de intervenção, o folk e o rock dominaram as rádios, enquanto o Fado era relegado a relíquia do passado.

 

Man in suit holding vintage microphone, black and white photoImagem cortesia de Renascença

 

Mas o Fado nunca desapareceu. As casas de Fado continuaram a funcionar, sobretudo em Alfama e no Bairro Alto, sustentadas por intérpretes dedicados e um público fiel. Foi neste contexto que novas vozes ajudaram a manter viva a tradição, ao mesmo tempo que a levavam por caminhos frescos. Carlos do Carmo (na foto acima), filho de Lucília do Carmo, destacou-se como uma das figuras centrais do Fado pós-revolução. Com a sua voz refinada e abertura à experimentação, introduziu novos arranjos, trabalhou com poetas contemporâneos e ajudou a aproximar o Fado de públicos modernos. Décadas mais tarde, veria os seus esforços reconhecidos quando recebeu o primeiro Grammy atribuído a Portugal, em 2004, um prémio de carreira que sublinhou o seu papel na renovação do género.

Outros nomes também marcaram esta fase de transição. Beatriz da Conceição (1939-2015) e Teresa Tarouca trouxeram intensidade e elegância ao repertório feminino, enquanto António Chainho se destacou como virtuoso da guitarra portuguesa, levando o instrumento para colaborações internacionais e provando que podia brilhar fora da sombra dos cantores.

Culturalmente, o Fado encontrava também novo terreno. Filmes e produções televisivas começaram a reinterpretá-lo para um público pós-ditadura. Deixou de estar ligado à propaganda ditatorial anterior para ser reenquadrado como património popular vital, associado menos ao regime e mais à própria cidade de Lisboa.

O final da década de 1970 e o início da de 1980 foram, assim, um momento de sobrevivência e reinvenção discreta. Embora os holofotes estivessem virados para outros géneros, o Fado resistiu nos bairros de Lisboa, à espera do renascimento que chegaria uma década depois.

 

O renascimento moderno do Fado

Nas décadas de 1980 e 1990, o Fado começou a libertar-se do estigma da ditadura e a recuperar o seu lugar na cultura portuguesa. Uma nova geração de cantores e músicos entrou em cena, tratando o Fado não como um fóssil do passado, mas como uma tradição viva, capaz de evoluir sem perder a sua essência.

 

Person in blue shirt smiling while leaning out of a window with a green shutter.Imagem cortesia de Camoes Radio

 

Uma das figuras centrais deste renascimento foi Camané (na foto acima), frequentemente descrito como o maior fadista masculino da sua geração. Com a sua minúcia na frase musical e uma profundidade emocional rara, reafirmou a força das vozes masculinas num género que, a nível internacional, era há muito dominado por estrelas femininas como Amália. Ao seu lado, Mísia (1955-2024) rompeu convenções ao introduzir uma estética vanguardista, incluindo as icónicas luvas pretas e encenações dramáticas, e ao incluir letras de poetas contemporâneos no seu repertório. O seu estilo ousado expandiu a audiência do Fado, sobretudo além-fronteiras.

 

Person in red shirt singing passionately into a microphone against dark background.Imagem cortesia de Locomotiva Azul

 

Outros nomes importantes foram Aldina Duarte, conhecida pela sua entrega teatral e escolhas líricas invulgares, e Cristina Branco (na foto acima), que trouxe ao género uma sensibilidade mais leve e com influências do jazz. Juntas, estas vozes provaram que o Fado não era apenas memória, mas sim uma arte flexível, pronta a ser renovada.

O renascimento foi também institucional. A fundação do Museu do Fado, em 1998, deu ao género uma casa dedicada em Alfama, celebrando a sua história através de arquivos, exposições e eventos ao vivo. Este reconhecimento a nível nacional foi reforçado em 2011, quando a UNESCO inscreveu o Fado na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade. A inscrição reconheceu não apenas a música, mas todo o universo cultural em torno dela, incluindo a poesia, a performance, os instrumentos e os rituais de grupo.

 

Smiling man in a suit sitting on the beach with ocean in background.Imagem cortesia de Casa do Comum

 

Entretanto, os guitarristas continuaram a expandir os limites da guitarra portuguesa. António Chainho (na foto acima), já então uma figura consagrada, colaborou com artistas da Índia, de África e da América Latina, levando o instrumento para lá do Fado tradicional. O seu trabalho demonstrou como a guitarra portuguesa podia ser, em simultâneo, guardiã da tradição e ponte para novos mundos.

À entrada do novo milénio, o Fado tinha recuperado o seu lugar de destaque na identidade portuguesa. O que antes corria o risco de ser visto como ultrapassado tornou-se, afinal, uma tradição respeitada e uma plataforma de inovação, pronta para entrar no século XXI.

 

O Fado na atualidade

No século XXI, o Fado tornou-se ao mesmo tempo profundamente tradicional e ousadamente global. O núcleo mantém-se inalterado, contando com um cantor, uma guitarra portuguesa, uma viola clássica e, por vezes, uma viola baixo. O repertório continua a beber da biblioteca partilhada dos fados tradicionais, onde muitas vozes interpretam as mesmas melodias com letras diferentes, frequentemente escritas por poetas e não pelos intérpretes. Mas, em torno desta estrutura, o Fado atual estende-se em múltiplas direções.

Na linha da frente estão três mulheres que se tornaram embaixadoras internacionais: Mariza, Ana Moura, e Carminho.

Mariza, com a sua presença cénica marcante e voz poderosa, já atuou no Carnegie Hall e na Sydney Opera House, levando o Fado a plateias que talvez nunca tenham posto os pés na Mouraria ou em Alfama. Nascida em Moçambique em 1973, filha de pai português e mãe moçambicana, mudou-se ainda em criança para Lisboa, onde cresceu no bairro da Mouraria, imersa na tradição fadista. Quando surgiu no início dos anos 2000, eram poucos os jovens a gravar Fado, e a imagem do género continuava fortemente associada a padrões antigos e tradicionais. Mariza mudou esse panorama com o seu álbum de estreia Fado em Mim (2002), inicialmente rejeitado pelas editoras portuguesas e lançado através de uma editora holandesa. No entanto, viria a ter grande sucesso, reavivando o interesse comercial e crítico pelo Fado moderno.

Ana Moura cruza tradição com pop e rock, tendo colaborado com os Rolling Stones (veja a actuação no vídeo acima) e Prince. Mas a sua carreira recente mostra que a sua ambição vai muito além destas incursões. Em Casa Guilhermina (2022), álbum que dedica à sua mãe, explora sonoridades que passam pelo funk, pelo soul, pelo semba angolano e até por ritmos ligados a Moçambique, sempre sem perder a raiz fadista que marca a sua identidade. Ao trazer estas influências africanas para o seu trabalho, Ana Moura não só inova, como também reata ligações históricas entre o Fado e os mundos lusófonos que há muito dialogam com a música portuguesa.

Carminho, por sua vez, tornou-se um dos nomes contemporâneos mais destacados do género, combinando fidelidade à essência do Fado com uma clara projeção internacional. Para além dos seus álbuns e concertos aclamados, levou o Fado a palcos de todo o mundo com uma confiança que soa incrivelmente moderna. Em 2024, participou no filme vencedor de Óscares Poor Things, interpretando parte da banda sonora, uma presença que apresentou a sua voz a um público global, para além dos círculos tradicionais do Fado. Carminho recupera também as raízes afro-brasileiras do género, entrelaçando influências do Brasil nas suas interpretações e fechando, de forma simbólica, o círculo da génese transatlântica do Fado.

 

Woman singing passionately on stage with a microphone, red smoke in background.Imagem cortesia de Museu do Fado

 

A estas artistas junta-se uma nova vaga que continua a expandir as possibilidades do Fado. Gisela João, Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro, e Katia Guerreiro (na foto acima) mantêm-se próximas da tradição, mas chegam a públicos mais jovens. Outros experimentam fusões, combinando o Fado com jazz, música eletrónica ou até hip hop, provando que o género pode evoluir sem perder a sua identidade.

Outra figura importante do panorama atual é Marta Pereira da Costa, uma das raras mulheres a dedicar-se profissionalmente à guitarra portuguesa. Tradicionalmente tocado quase exclusivamente por homens, o instrumento ganha uma nova voz através das suas mãos. Com a sua abordagem fresca, Marta alia o respeito pelo Fado clássico a explorações que levam a guitarra portuguesa a palcos internacionais muito para além de Lisboa, incluindo uma atuação marcante no Tiny Desk Concerts da NPR. A sua presença não só desafia normas de género enraizadas no Fado, como também prova que o instrumento continua a reinventar-se para novos públicos.

Um dos exemplos mais notáveis de reinvenção é o de Fado Bicha, um duo que assume abertamente perspetivas queer e ativistas dentro do género. As suas atuações reinterpretam os temas tradicionais do Fado através da lente das experiências LGBTQ+, transformando tanto as letras como a encenação e, assim, recuperando a música como plataforma para novas formas de narrativa.

Em 2021, o seu trabalho foi tema do documentário As Fado Bicha, que registou não só as suas atuações como também os debates que geraram sobre tradição, identidade e inclusão. Para uns, o projeto é provocador; para outros, é um poderoso lembrete de que o Fado sempre foi uma voz para os que estavam à margem.

Today, Fado is as much about tradition as it is a cosmopolitan art form, embraced even by audiences who may not speak Portuguese but recognize in its sound the universal language of emotion.

 

Viver o Fado em Lisboa

Existem duas maneiras principais de assistir Fado ao vivo em Lisboa, incluindo em contextos casuais e muitas vezes espontâneos, ou nas casas de fado profissionais. A primeira é conhecida como fado vadio, uma forma mais livre e amadora do género. Aqui, qualquer pessoa pode levantar-se e cantar, geralmente numa taberna ou num bar, acompanhada por guitarristas. Estas noites têm um ambiente informal, quase como um open mic, e refletem muitas vezes o espírito dos primeiros tempos do Fado.

 

Dimly lit restaurant with people seated, musicians performing in background.Imagem cortesia de Lojas Com História

 

Do outro lado estão as casas de Fado, os espaços profissionais onde o Fado é interpretado por cantores e músicos estabelecidos. Nestes locais tudo é cuidadosamente coreografado e, quando as luzes se apagam, a sala mergulha em silêncio e o fadista assume o centro do palco. Os sets são tipicamente curtos, com três ou quatro canções, intercalados com o serviço de jantar. Quando a música começa, o tilintar dos talheres cessa e os empregados interrompem o serviço. Também as conversas devem parar, e o silêncio torna-se uma forma de cortesia, quase como se fosse parte integrante da atuação.

A comida e a bebida são elementos centrais da experiência nas casas de Fado. A maioria funciona com um menu fixo ou semifixo, geralmente composto por pratos tradicionais portugueses. Caldo verde, sardinhas assadas, bacalhau à Brás, polvo assado e tábuas de queijos e enchidos estão entre as opções habituais. O vinho, claro, ocupa lugar de destaque, seja uma simples jarra de tinto da casa ou uma garrafa mais requintada.

O ambiente varia consoante o bairro. Em Alfama, muitas casas de Fado ainda têm uma gestão familiar, com salas intimistas que podem acolher apenas algumas mesas. É aqui que se encontram, muitas vezes, vozes mais antigas que mantêm tradições transmitidas de geração em geração. A Mouraria conta com uma mistura de pequenas tabernas e encontros informais, onde o fado vadio continua, por vezes, bem vivo. Já o Bairro Alto acolhe casas maiores e mais formais, com fadistas profissionais a cantar para um público misto de residentes e, sobretudo, turistas, num bairro onde a vida noturna é intensa logo à porta.

A etiqueta é fundamental e deve ter sempre em mente a regra mais importante, isto é, o silêncio durante o canto. Sussurrar, bater palmas a meio ou sacar do telemóvel não lhe trará olhares simpáticos. O aplauso surge no fim, nunca a meio. E, embora possa desfrutar da refeição entre atuações, conte com o facto de o serviço parar assim que a música começa.

A própria performance segue um ritual. Os fadistas vestem-se geralmente de preto; as mulheres, muitas vezes, com um xaile pelos ombros, evocando visualmente o luto e a saudade. O cantor permanece perto dos músicos, quase imóvel, com uma mão na anca ou a segurar o xaile. O guitarrista português senta-se ligeiramente à frente, conduzindo o diálogo musical, enquanto a viola dá o ritmo. Esta encenação minimalista faz com que toda a emoção dependa da voz e do silêncio na sala, criando a intensidade que define uma atuação de Fado ao vivo.

 

Onde ouvir Fado ao vivo em Lisboa

Museu do Fado

Pink building with arched windows, labeled 'Museu do Fado', people and vehicles in front on a cloudy day.Não é preciso sentar-se numa taberna à meia-noite para começar a compreender o Fado, pois pode ir logo à origem. O Museu do Fado, em Alfama, é o melhor lugar da cidade para quem tem curiosidade em conhecer a história desta música. As exposições permanentes traçam o percurso do Fado desde as vielas do século XIX até ao estatuto de património da UNESCO, com gravações raras, instrumentos e objetos pessoais de lendas como Amália Rodrigues. As exposições temporárias focam-se muitas vezes em artistas contemporâneos ou em vertentes esquecidas do género, garantindo que mesmo os visitantes repetentes encontram sempre algo novo. O auditório do museu mantém igualmente a música viva com concertos, oficinas e conferências que dão palco tanto a veteranos como a fadistas emergentes. Não se vai aqui para jantar, mas é possível assistir a atuações ao vivo, e a entrada é bastante acessível quando comparada com o custo de uma noite numa casa de fado.

📍Largo do Chafariz de Dentro 1, 1100-139 Lisboa
www.museudofado.pt
Imagem cortesia de AntoineJoub no Wikipedia

 

Mesa de Frades

Dining table with wine, food, and person holding fork in cozy restaurant setting.Poucos espaços de Fado em Lisboa rivalizam com o cenário da Mesa de Frades. Instalada numa antiga capela do século XVIII em Alfama, com os seus típicos azulejos e abóbadas, a sala transmite uma atmosfera quase sagrada. O espaço é pequeno e essa intimidade, combinada com a acústica da capela, torna as atuações especialmente imersivas. A refeição faz parte da experiência, ainda que o protagonismo esteja claramente no ambiente e na música. Pode contar com pratos clássicos portugueses, incluindo bacalhau, enchidos e guisados, servidos em formato de menu completo. Os preços são médios a altos, refletindo tanto a qualidade dos intérpretes como a singularidade do espaço. O espetáculo é o grande atrativo e não é raro aparecerem fadistas conhecidos de forma inesperada à medida que a noite avança, tradição que reforça a sua reputação entre lisboetas e conhecedores.

📍Rua dos Remédios 139A, 1100-445 Lisboa
www.mesadefrades.pt
Imagem cortesia de Mesa de Frades

 

Maria da Mouraria

Cozy restaurant interior with tables, red cushioned chairs, wall decor, and warm lighting.Maria da Mouraria homenageia Maria Severa Onofriana, a cantora e cortesã do século XIX muitas vezes considerada a primeira grande fadista. O ambiente é acolhedor e tradicional, tornando a música próxima e envolvente. Ao contrário de alguns espaços que apostam numa formalidade excessiva, na casa de Fados Maria da Mouraria encontra um equilíbrio, contando sempre com cantores e músicos profissionais de grande qualidade e também amadores. A ementa não é particularmente ousada, mas cumpre aquilo que muitos procuram numa noite de Fado, incluindo uma refeição completa que acompanha, mas não se sobrepõe, à música. Os preços são médios no contexto das casas de Fado, mais acessíveis do que as opções de luxo, mas ainda assim oferecem um programa bem curado.

📍Largo da Severa 1-2, 1100-588 Lisboa
www.mariadamouraria.com
Imagem cortesia de A Maria da Mouraria

 

Adega Machado

Facade of Adega Machado with colorful tiles depicting musical themes.A Adega Machado recebe noites de Fado desde o século passado, sendo uma das casas de fado mais antigas ainda em atividade em Lisboa. Localizada no Bairro Alto, oferece uma abordagem mais teatral e sofisticada ao género, com uma programação que frequentemente inclui alguns dos fadistas mais reconhecidos da cidade. Ao longo das décadas, nomes como Amália Rodrigues e Fernando Maurício atuaram aqui, ajudando a consolidar o Bairro Alto como um dos centros da vida noturna do Fado. O espaço distribui-se por vários andares, conferindo-lhe uma atmosfera mais ampla e animada do que as tabernas intimistas de Alfama. A noite desenrola-se em torno da comida, com menus de vários pratos que dão destaque a clássicos portugueses, muitas vezes com um toque ligeiramente modernizado. Não é a forma mais económica de ouvir Fado, mas é pensada como uma noite completa e não apenas como um concerto. Para quem prefere uma experiência estruturada, a Adega Machado cumpre e bem, mas convém reservar com antecedência.

📍Rua do Norte 91, 1200-284 Lisboa
www.adegamachado.pt
Imagem cortesia de The Best of Bairro Alto no Facebook

 

Clube de Fado

Musician playing guitar and woman singing in a dimly lit venue.A poucos passos da Sé de Lisboa, o Clube de Fado é uma das casas de Fado mais conhecidas e afamadas da cidade. Foi fundada pelo guitarrista Mário Pacheco, que tocou ao lado de Amália Rodrigues e continua a ser um dos mais respeitados intérpretes da guitarra portuguesa. Esse prestígio sente-se na programação, que apresenta atuações consistentes de fadistas consagrados acompanhados por alguns dos melhores músicos da cidade. Este é claramente o lado mais formal da experiência do Fado, onde o jantar é parte essencial, com menu fixo ou à carta, centrado em clássicos da gastronomia portuguesa. Em termos de preços, o Clube de Fado situa-se na faixa alta, mas o ambiente requintado e a qualidade dos artistas fazem dele uma das escolhas mais seguras para quem procura um Fado de primeira que soe verdadeiramente lisboeta.

📍Rua de São João da Praça 92, 1100-521 Lisboa
www.clube-de-fado.com
Imagem cortesia de Clube de Fado no TripAdvisor

 

Parreirinha de Alfama

Two men with guitars sitting in a decorated restaurant with blue tiles.Escondida numa das ruelas de Alfama, a Parreirinha de Alfama é uma verdadeira instituição do bairro. Os preços são mais moderados em comparação com casas de fado de gama mais alta, tornando-a uma opção acessível para viajantes que procuram autenticidade sem luxo. Foi fundada por Argentina Santos (1926-2019), uma das grandes fadistas lisboetas do século XX. O ambiente é intimista, simples e totalmente centrado na música. Durante décadas, a própria Argentina atuou aqui, transformando o espaço num local de peregrinação para amantes de Fado de todo o mundo. A sala é pequena, com paredes de pedra que tornam as atuações próximas e poderosas, como se se estivesse num círculo familiar e não apenas na plateia. A comida é tradicional, muitas vezes incluindo o inevitável, mas sempre reconfortante, caldo verde.

📍Beco do Espírito Santo 1, 1100-222 Lisbon
www.facebook.com/ParreirinhaDeAlfama
Imagem cortesia de Restos de Colecção

 

Sr. Vinho

Wine bottle and glasses on a restaurant table set elegantly.O Sr. Vinho é uma das casas de Fado mais renomadas de Lisboa, com fama de sofisticação e atuações de topo. Aberta nos anos 1970 pela fadista Maria da Fé e pelo guitarrista Francisco Carvalhinho, tornou-se rapidamente ponto de encontro da elite fadista da cidade. Muitas das estrelas de hoje, incluindo Ana Moura, que aqui iniciou a carreira, e Camané, considerado o maior fadista masculino da sua geração, já passaram por estas paredes, fazendo do Sr. Vinho uma verdadeira incubadora de talento. O restaurante fica na Lapa, longe das zonas mais turísticas, e combina um ambiente requintado com uma programação musical séria. O jantar é central na experiência, com uma ementa enraizada na tradição gastronómica portuguesa e que conta com marisco e pratos de bacalhau, opções de borrego e vitela, e sobremesas caprichadas. O serviço é coordenado com os sets: conversa e refeição entre atuações; silêncio e foco quando a música começa. Em termos de preços, o Sr. Vinho situa-se no segmento mais formal e elevado, ideal para quem procura a experiência completa de casa de fado, com elegância.

📍Rua do Meio à Lapa 18, 1200-723 Lisboa
https://srvinho.com
Imagem cortesia de Sr. Vinho

 

O Faia

Cozy restaurant with white tablecloths, guitars on walls, and warm lighting.Se procura prestígio, O Faia, no Bairro Alto, é uma aposta segura. Fundada nos anos 1940 por Lucília do Carmo (lendária fadista e mãe de Carlos do Carmo), esta casa de fado sempre se associou a padrões artísticos elevados. Gerações de grandes vozes atuaram aqui, tornando-a um dos palcos mais respeitados de Lisboa. No interior, a experiência é declaradamente formal, com toalhas brancas, serviço atento e um menu de vários pratos. A cozinha eleva a tradição local, incluindo várias receitas de bacalhau, cataplana de marisco e sobremesas portuguesas clássicas. A carta de vinhos é extensa, com rótulos de várias regiões do país. Se o orçamento não é a principal preocupação na sua viagem, sugerimos O Faia para sentir um pouco da “realeza” do Fado lisboeta.

📍Rua da Barroca 54-56, 1200-050 Lisboa
https://ofaia.com
Imagem cortesia de O Faia

 

Casa de Linhares

Group of six people smiling in front of a rustic fireplace.A Casa de Linhares junta o Fado a uma das salas de jantar mais atmosféricas de Alfama. Instalada num espaço abobadado que terá pertencido a uma antiga residência nobre, as paredes espessas e os arcos altos criam uma acústica natural que dá ao som uma ressonância profunda. Em termos de preços, situa-se entre o médio-alto das casas de fado. Não é a opção mais barata de Lisboa, mas a combinação de história, comida e música compensa para quem procura uma noite imersiva. As atuações são curadas e profissionais, com fadistas respeitados que equilibram repertório clássico e interpretações mais contemporâneas. A ementa inspira-se na tradição portuguesa sem recear dar um toque de refinamento, e a carta de vinhos acompanha à altura.

📍Beco dos Armazéns do Linho 2, 1100-037 Lisboa
www.casadelinhares.com
Imagem cortesia de Casa de Linhares

 

Tasca do Chico

Man sings in a cozy, memorabilia-filled room with others playing guitar.Se as casas de Fado são os restaurantes polidos do género, a Tasca do Chico é a sua versão mais tasca, pequenina e cheia de fumo (da canoa em barro de assar chouriços, entenda-se). Com moradas no Bairro Alto e em Alfama, é um dos locais mais conhecidos para fado vadio, a vertente mais espontânea, onde qualquer corajoso se pode levantar e cantar. Na sua localização no Bairro Alto, não é preciso pedir uma refeição completa. Basta um copo de vinho, uma cerveja, um pastel de bacalhau ou um chouriço assado à mesa para garantir o lugar na sala apertada. As atuações são imprevisíveis, frequentemente contando com vozes experientes que podem partilhar o espaço com estreantes. É precisamente essa crueza que torna a experiência memorável. O público mistura lisboetas e visitantes, ombro a ombro, unidos pelo silêncio que se instala assim que alguém começa a cantar.

📍Rua Diário de Notícias 39, 1200-141 Lisboa
www.facebook.com/tascadochico
Imagem cortesia de Time Out Lisboa

 

Tasca do Jaime

Group playing string instruments inside a decorated room with blue patterned walls and framed art.Os fins de semana na Graça costumam ter banda sonora, e a Tasca do Jaime é onde muitos lisboetas vão para sessões de Fado sinceras e despretensiosas. O cenário é simples, com mesas de madeira, cerveja fresca, vinho da casa e bons petiscos. A comida não é o motivo principal da visita, mas ajuda a compor o ambiente para aquilo que mais interessa, a música. Os preços são acessíveis e o espírito é informal. As famílias aparecem por vezes, embora o espaço seja limitado e, como o foco é a atuação, crianças irrequietas podem não se adaptar tão bem ao ambiente.

📍Rua da Graça 91, 1170-165 Lisboa
www.facebook.com/tasca.dojaime
Imagem cortesia de NIT

 

Fado in Chiado

Two singers performing on stage with cityscape background; seated musicians playing guitars.Nem todas as experiências de Fado em Lisboa têm de ser jantares longos noite dentro. O Fado in Chiado propõe algo diferente, isto é, um espetáculo diário, com bilhete, em ambiente de teatro, no coração do Chiado. As atuações decorrem ao final da tarde, o que é prático para quem quer ouvir Fado sem se comprometer com uma noite inteira ou com uma refeição completa. O concerto dura cerca de uma hora, com cantores profissionais acompanhados por guitarra portuguesa e viola clássica. Não há serviço de comida, é música pura, apresentada num registo mais de sala de concertos. Por isso, é especialmente apelativo para famílias com crianças, viajantes com horários apertados ou quem procura uma introdução ao Fado antes de experimentar uma casa tradicional.

📍Rua da Misericórdia 14, 1200-273 Lisboa
www.fadoinchiado.com
Imagem cortesia de Fado in Chiado

 

Real Fado

Two musicians playing guitars in a cozy, vintage bar setting.Outra experiência de Fado em Lisboa que prescinde de  jantar, sendo até perfeito para antecedê-lo, é o Real Fado. Este projeto junta concertos de fado tradicional e autêntico em locais históricos e únicos de Lisboa, como o Reservatório da Patriarcal, a galeria-palácio Embaixada e o icónico bar Pavilhão Chinês. Honra o Fado como a canção nacional de Portugal e como Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, e procura conectar o público com a alma da música tradicional portuguesa, em ambientes valorizados pelo impressionante património de Lisboa onde se realizam os concertos. O Real Fado oferece uma alternativa mais informal e intimista às casas de fado tradicionais, com capacidade limitada para um ambiente mais exclusivo e pessoal. É ideal para um programa pré-jantar, com concertos ao final da tarde que duram apenas uma hora, entre 19h e as 20h, e sem a obrigação de permanecer para uma refeição.

📍Principe Real, Lisboa
www.realfadoconcerts.com
Imagem cortesia de Real Fado

 

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