Ideias preconcebidas sobre a gastronomia portuguesa
Quem pensa que a comida portuguesa é pouco mais do que bacalhau e pastéis de nata está muito enganado. Talvez essas mesmas pessoas também pensem que os pratos portugueses são mais ou menos como a comida espanhola, embora a comida mais portuguesa que creem que já alguma vez provaram foi a paella.
É fácil simplificar demasiado quando ainda não se sabe muito sobre um assunto. Hoje, convidamo-vos a uma viagem para desmascarar alguns dos mitos e ideias preconcebidas mais comuns sobre a comida portuguesa.
“A comida portuguesa é igual à comida espanhola”
Se vir um restaurante português a anunciar paella em Lisboa como uma especialidade local, é mais do que provável que esse estabelecimento não lhe sirva uma boa representação do que são os nossos pratos locais, e possa bem ser umas dessas armadilhas para atrair turistas. Não temos nada contra uma boa paella, claro, mas isso só vai perpetuar a ideia de que a comida portuguesa é muito parecida com a comida espanhola. Estamos aqui para dizer que não é. Mas também esperamos que nos venha visitar, faça muitas degustações e tire as suas próprias conclusões.
Partilhamos vários elementos-chave que, na verdade, fazem parte da dieta mediterrânea, também presente em países como a Itália e a Grécia. Falamos, entre outras coisas, do uso comum do azeite extra virgem, do consumo abundante de peixe e mariscos, leguminosas e verduras, e um enfoque a nível histórico em pratos humildes. Mas para além destes ingredientes e hábitos comuns, consequência natural das nossas semelhanças geográficas, acreditamos que a essência e os sabores que definem a cozinha portuguesa podem de facto ser destacados enquanto únicos.
Para começar, as principais especiarias que contribuem para a identidade dos pratos portugueses e espanhóis são distintas. Enquanto em Espanha, por exemplo, o uso de açafrão, pimentão e salsa é muito difundido, aqui em Portugal apostamos muito em condimentos como o piri-piri (malagueta pequena mas potente), o louro, coentros e, principalmente para os pratos doces, canela. Muita canela.
Outras diferenças importantes? Em Espanha comem paella, em Portugal comemos arroz de marisco. São pratos diferentes! A paella é uma preparação de arroz mais solto que muitas vezes pode incluir frutos do mar e carne, enquanto o arroz de marisco é um arroz bem molhado, que chamamos de arroz malandrinho, com uma mistura de frutos do mar enriquecidos com um caldo à base de tomate. Além disso, em Espanha comem tapas, mas aqui em Portugal chamamos estes pequenos pratos de petiscos. Enquanto do outro lado da fronteira pode desfrutar de uma tortilla de patatas (omelete de batatas), aqui em Portugal é mais provável que desfrute de ovos mexidos com espargos ou enchidos como a farinheira. Conceitos semelhantes, pratos diferentes.
Embora Portugal e Espanha partilhem o território da Península Ibérica e, devido à topografia e ao clima tenham acesso a ingredientes muito semelhantes, a nossa história é diferente e isso certamente influenciou a nossa gastronomia. A comida portuguesa que se pode encontrar hoje em dia foi moldada pelas expedições marítimas portuguesas à volta do mundo e, portanto, incorpora influências da Ásia (particularmente do Japão), Índia, Brasil e vários países da África. Saiba mais sobre os melhores pratos das ex-colónias portuguesas que pode degustar em Lisboa!
Acreditamos que a comida portuguesa não é melhor nem pior que a dos nossos vizinhos. E mesmo que as coisas estejam a mudar rapidamente, ainda é verdade que é uma pérola menos conhecida internacionalmente. Isso certamente não é um reflexo da qualidade ou singularidade de nossos pratos, é mais devido à fraca divulgação no passado, que resultou em desconhecimento a nível mundial. Mas estamos aqui para mudar isso! É exatamente por isso que nos orgulhamos quando aqueles que nos visitam em Lisboa e que mal conheciam a comida portuguesa antes da por aqui viajar acabam por ficar tão incrivelmente surpreendidos.
“A comida portuguesa é picante”
Graças a cadeias como a Nando’s, uma das comidas portuguesas mais populares no estrangeiro é o frango piri-piri. Este frango de churrasco finalizado com azeite picante está certamente entre os pratos mais recomendados a provar quando vier a Portugal. Mas é importante entender que nem todos os nossos cozinhados são picantes. Na verdade, nem mesmo o frango assado tem que ser muito picante. Na maioria das churrasqueiras pode pedir que o seu frango seja condimentado ao sair da grelha ou, com a mesma frequência, que o molho piri-piri seja servido à parte para que possa ir adicionando a gosto.
Além do frango com piri-piri, usamos malaguetas para outros pratos, mas em comparação com outras gastronomias famosamente picantes da Ásia, como a da Índia e Tailândia, ou mesmo a mexicana, o nível de picante em Portugal é bem menor. Isso não significa que a nossa comida seja insossa, mas é importante perceber a diferença entre condimentado e picante!
“Na culinária portuguesa o que importa é o peixe”
Ao viajar por Portugal numa expedição gastronómica pode ser fácil chegar à conclusão de que por aqui o bacalhau é quase como um deus! Na verdade, gostamos imenso de bacalhau salgado. Além dos peixes secos, também apostamos muito nos pratos de peixe e marisco fresquíssimos. Isto é o resultado natural de ter uma uma costa atlântica tão longa. Mas isso não significa que a nossa culinária típica não se estenda muito além dos sabores do mar.
Quando se trata de delícias do mundo da carne, séculos de tradição fazem com que usemos carne de porco literalmente da cabeça aos pés: febras para a bifana, lombo ou entremeada, presunto e enchidos, entranhas e extremidades, pense no uso de carne de porco que quiser – é bem provável que faça parte do repertório nacional! Ao percorrer Portugal, especialmente pelo interior, vai entender (e provar!) algumas das nossas especialidades de carne mais emblemáticas. No interior de Portugal continental, por exemplo, conte de encontrar pratos de borrego e cabrito, enquanto nos Açores vale mesmo a pena experimentar carne de vaca da mais alta qualidade, alimentada nos pastos frescos das ilhas.
“Os vegetarianos não podem desfrutar da comida tradicional portuguesa”
Embora isso possa ser verdade para aqueles que seguem uma dieta vegana estrita, os ovolactovegetarianos têm muito a descobrir quando se trata de comida tradicional portuguesa.
Para começar, não importa a onde se dirija no país, de tascas a restaurantes de renome, vai sempre encontrar muitas sopas de vegetais [inserir link para novo blog post sobre sopas], que são uma das bases da nossa alimentação. Ainda na categoria das entradas, sabia que Portugal criou o prato peixinhos da horta que é o antecessor da tempura japonesa?
A cozinha regional mais relevante no que diz respeito às opções vegetarianas é muito provavelmente a do Alentejo. Esta região a sul é uma das áreas agrícolas mais importantes do país. Aqui, pode saborear lindos pratos locais como tomatada (a versão portuguesa de shakshuka), açorda (um caldo simples, mas delicioso com bastante alho e coentros servido em cima de pão rústico e muitas vezes acompanhado com um ovo escalfado por cima) e tiborna (semelhante à bruschetta, com coberturas variadas).
Uma das melhores coisas sobre a comida em Portugal é a nossa variedade de pastelaria e sobremesas irresistíveis, que também podem ser apreciadas pelos vegetarianos, desde que os laticínios e os ovos façam parte da dieta. Pastel de nata, ovos moles de Aveiro, travesseiros de Sintra, Queijadas… há muito poucas excepções de doces que não poderá provar em Portugal sendo vegetariano.
“O pastel de nata é a melhor sobremesa portuguesa”
Bem, sim e não. Depende do gosto de cada um. Mas, tecnicamente, o pastel de nata não é uma sobremesa. Consideramos os nossos populares pastéis de nata um doce de pastelaria, uma iguaria que muitas vezes é apreciada com um café, ao pequeno-almoço ou como lanche a meio da manhã ou a meio da tarde. Desde a popularização internacional do pastel de nata nos últimos anos, é fácil encontrar artigos que destacam estes pastéis como uma sobremesa obrigatória a provar em Portugal. Claro que queremos que experimente o pastel de nata, também conhecido por muitos que visitam Lisboa como pastel de Belém. Aliás, mesmo que o levemos a comer aquele que consideramos serem os melhores pastel da cidade durante os nossos Passeios Gastronómicos & Culturais, encorajamos todos os que visitam Lisboa a provarem o maior número possível de pastéis de nata, entender as diferenças sutis de pastelaria para pastelaria e, por fim, nomearem o vosso favorito.
Então, agora que sabe que o pastel de nata é algo que pode saborear mesmo logo pela manhã, que sobremesas escolher após as refeições principais? Não se preocupe, pois existe uma bela abundância de sobremesas para escolher, neste país que é obcecado por rematar com um bom sabor de boca. Leite creme, sericaia, pudim Abade Priscos, molotof e farófias encontram-se entre as nossas recomendações.
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