O guia definitivo do azeite em Portugal

Em Portugal, o azeite é talvez o ingrediente que mais une a nossa cozinha. Seria praticamente impossível pedir a um cozinheiro português que trabalhasse sem ele. Se alguma vez se perguntou por que é que a comida portuguesa tem um sabor tão rico apesar da sua simplicidade, a resposta está muitas vezes no azeite. Muito antes de outras partes do mundo começarem a idolatrar o virgem extra, já nós o usávamos para ensopar o pão no início da refeição, temperar saladas frescas de legumes ou marisco, dar brilho ao peixe grelhado, fritar carnes e até enriquecer algumas sobremesas.
Portugal está entre os maiores consumidores de azeite do mundo, com uma média de 12 a 14 litros por pessoa por ano. É também o quarto maior produtor da União Europeia e o sexto a nível mundial, embora passe muitas vezes despercebido em comparação com Espanha, Itália ou Grécia, simplesmente porque, historicamente, Portugal nunca soube promover-se tão bem como esses países.
Em Portugal, o Alentejo lidera a produção de azeite com larga vantagem, seguido pela região montanhosa de Trás-os-Montes. Apesar de ter menos notoriedade internacional, o azeite português arrecada regularmente os principais prémios em competições como a NYIOOC World Olive Oil Competition, onde os azeites do Alentejo e de Trás-os-Montes surgem de forma consistente entre os melhores do mundo. Para os viajantes, isto significa que em Portugal se encontram azeites de classe mundial, muitas vezes a preços bem mais acessíveis do que noutros países.
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Compreender o azeite é fundamental para compreender a gastronomia portuguesa. Ao longo deste guia vamos levá-lo a conhecer a história do azeite em Portugal, desde as suas raízes mais antigas até às garrafas de azeite que hoje encontra nas prateleiras das lojas. Vamos explorar as regiões e os seus sabores distintos, mostrar-lhe como escolher e provar como um local e indicar-lhe onde pode experimentar azeite em Lisboa e não só.
Breve história do azeite em Portugal
A história do azeite em Portugal remonta à Antiguidade. As oliveiras já cresciam na Península Ibérica antes da chegada dos romanos, mas foi sob o domínio romano, a partir do século II a.C., que a sua produção em larga escala realmente se desenvolveu. Vestígios arqueológicos de lagares e ânforas foram encontrados por todo o país, de Conímbriga às planícies do Alentejo. Estes achados provam que o azeite era consumido localmente mas também exportado para todo o império. Para os romanos, era alimento, remédio, combustível para lamparinas e até pagamento para soldados. O seu sistema agrícola lançou as bases de tudo o que veio depois.
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Quando os califados islâmicos controlaram grande parte da Península Ibérica a partir do século VIII, continuaram a moldar a cultura da oliveira nesta região. Existem tratados agrícolas de Al-Andalus que descrevem métodos melhorados de rega e poda, alguns dos quais foram adotados nos territórios portugueses. A própria palavra “azeite” vem do árabe az-zait, que significa “o sumo”, evidenciando a forte influência mourisca na cozinha portuguesa.
Na Idade Média, o azeite já fazia parte da vida quotidiana. Os mosteiros preservavam olivais e aperfeiçoavam técnicas de extração, produzindo azeite tanto para consumo alimentar como para fins religiosos. Era usado para acender lamparinas nos claustros, conservar alimentos e tinha também um papel nos rituais católicos. Nas aldeias, tornou-se uma das poucas gorduras disponíveis, sobretudo durante períodos de jejum em que os produtos de origem animal eram proibidos. Refeições simples à base de pão, legumes e leguminosas dependiam do azeite para ganhar sabor e fornecer calorias essenciais. O azeite era tão valioso que, em algumas regiões, podia até ser usado como forma de pagamento de impostos.
Nos séculos XV e XVI, quando Portugal se voltou para o Atlântico e o comércio global, o papel doméstico do azeite pouco mudou. Ao contrário do vinho ou das especiarias, não era amplamente exportado, mas manteve-se central na cozinha portuguesa. Relatos de viajantes dessa época mencionam como a comida portuguesa dependia fortemente do azeite em contraste com o norte da Europa, onde predominavam a manteiga e a banha.
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A industrialização do século XIX trouxe lagares mais modernos, mas a produção continuava a ser sazonal. Os lagares de varas de madeira ainda eram usados em muitas aldeias, e alguns estão hoje preservados como património (veja abaixo as nossas sugestões de museus do azeite em Portugal). A época da apanha era vivida em comunidade, sendo que os vizinhos juntavam-se para varejar as oliveiras, os lagares trabalhavam dia e noite e as famílias guardavam o azeite do ano em talhas de barro.
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No século XX, a mecanização mudou a forma como as azeitonas eram colhidas e prensadas, e as grandes cooperativas começaram a dominar a produção, sobretudo no Alentejo. Ainda assim, o peso cultural do azeite não diminuiu. Pelo contrário, o consumo aumentou e, no final do século XX, Portugal já tinha um dos maiores consumos per capita de azeite do mundo, posição que ainda hoje mantém.
A década de 1990 marcou outro ponto de viragem com a criação das denominações de origem protegida (DOP), que trouxeram reconhecimento oficial a estilos regionais como Trás-os-Montes ou Beira Interior. Ao mesmo tempo, a procura mundial por azeite virgem extra começou a crescer, e os produtores portugueses souberam aproveitar a oportunidade. Hoje, Portugal é o quarto maior produtor da União Europeia, exportando para mais de 100 países. Ainda assim, muitas das melhores garrafas de azeite mantêm-se em Portugal, nas mesas das famílias, das nossas tascas e restaurantes.
O azeite na gastronomia portuguesa
Dizer que o azeite é essencial na cozinha portuguesa é quase um eufemismo, já que está bem presente nos clássicos. O bacalhau à lagareiro (na foto), talvez seja a receita de bacalhau que mais o celebra. A açorda alentejana, uma sopa humilde de pão, alho, coentros e água, ficaria sem graça sem o generoso fio de azeite cru servido no final. Mesmo o cozido à portuguesa, o prato robusto de carnes, enchidos e legumes, que consideramos ser o prato nacional português, é frequentemente rematado com um fio de azeite.
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Há inúmeros outros exemplos a que um viajante que visita Portugal deve estar atento. Por exemplo: o caldo verde, a simples mas adorada sopa de couve galega e batata, só fica completa com o fio de azeite cru no fim; a feijoada à transmontana começa com cebola e alho refogados em azeite; as icónicas sardinhas assadas são pinceladas com azeite antes de irem para a grelha; e guisados caseiros de feijão, dependem dele para ganhar profundidade de sabor. Até em petiscos ou no pequeno-almoço, como o pão quente com azeite e orégãos no Alentejo, o azeite eleva o mais simples ao extraordinário.
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Praticamente todas as casas portuguesas têm uma azeiteira, esse pequeno recipiente de mesa para o azeite. E outra peça de loiça comum, mesmo em restaurantes, é o galheteiro, que reúne o azeite, o vinagre (quase sempre de vinho), o sal e a pimenta. Como irá notar ao comer fora em Portugal, sobretudo em estabelecimentos mais simples, é costume os clientes temperarem a sua própria salada e, acima de tudo, o azeite serve para dar o toque final e pessoal a um prato, seja para regar a nossa amada gordura dourada sobre batatas cozidas algo insossas ou sobre um peixe grelhado.
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O azeite também marca presença no repertório de doces portugueses. No Alentejo, o bolo de azeite (na foto) é um bolo rústico onde o azeite substitui a manteiga, conferindo humidade e um sabor característico. Outros doces regionais, incluindo as receitas conventuais que tanto dependem de ovos e açúcar, também o incluem na base, mostrando como sempre foi indispensável. Hoje, alguns pasteleiros continuam a trocar manteiga por azeite, não só por tradição mas porque o sabor acrescenta uma subtileza frutada que distingue estes doces. Claro que não são os bolos habituais que se vendem nas pastelarias de bairro que seguem esta prática (até porque o azeite é mais caro do que as margarinas vegetais mais usadas), mas em contextos onde se valoriza a tradição e o produto genuíno, o azeite mantém o seu lugar na doçaria.
Imagem cortesia de Produtos do Fundão
Como diz o ditado popular: “Do bom azeite, não há mau paladar”.
Mas, para além de definir o sabor da cozinha portuguesa, o azeite tem também um peso na saúde. A ciência da nutrição há muito que o destaca como pilar da dieta mediterrânica, associada à longevidade e à redução do risco de doenças cardiovasculares. Rico em gorduras monoinsaturadas e antioxidantes, o azeite acrescenta sabor, mas também nutrição, às refeições do dia a dia.
Usos do azeite português para além da cozinha
Em Portugal, o azeite nunca foi apenas para cozinhar. Durante séculos teve um papel na medicina, na beleza e até na espiritualidade, sempre presente no quotidiano das comunidades rurais.
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Uma das suas utilizações mais comuns é no cuidado da pele. Os tradicionais sabonetes de azeite, por vezes combinados com ervas como alecrim ou alfazema, são feitos há gerações e continuam a ser vendidos em mercados e farmácias. São suaves para a pele e chegaram a ser o produto de higiene por excelência antes da chegada dos sabões mais industriais. Muitas famílias também usavam azeite simples como hidratante, aplicando-o diretamente na pele seca ou como tratamento natural para o cabelo. Com o crescente interesse pela cosmética natural, estes hábitos voltaram a ganhar popularidade, e hoje produtores portugueses apresentam sabonetes e bálsamos artesanais de azeite tanto para o mercado local como internacional.
O azeite também sempre carregou um peso simbólico e espiritual. Antigamente era queimado em lamparinas para iluminar casas, igrejas e mosteiros, e continua a ser usado em rituais católicos como símbolo de bênção e pureza. Os santos óleos consagrados na Quinta-feira Santa (Óleo dos Catecúmenos e Óleo dos Enfermos) são feitos à base de azeite e utilizados em sacramentos como o batismo e a unção dos doentes. Em algumas zonas rurais, pequenas quantidades eram até reservadas para ungir ferramentas ou animais antes da época agrícola, num gesto de proteção e de desejo de prosperidade.
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Segundo tradições populares, em certas aldeias acreditava-se que o azeite podia afastar o mau-olhado, colocando-se uma gota de azeite em água para detetar ou desfazer a má sorte. Hoje em dia estas práticas são raríssimas, mas mostram bem como o azeite esteve sempre enraizado na vida rural portuguesa.
As principais regiões produtoras de azeite em Portugal
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Portugal pode ser pequeno, mas o seu mapa oleícola é vasto e variado. Cada região tem as suas variedades de azeitona, tradições e pratos intimamente ligados ao azeite. Muitas contam com a certificação de Denominação de Origem Protegida (DOP), que salvaguarda tanto os métodos como os sabores locais.
Azeite do Norte Alentejano DOP
O Alentejo domina a produção portuguesa de azeite, representando mais de dois terços do total nacional. A denominação Azeite do Norte Alentejano DOP abrange grande parte do Alto Alentejo, incluindo Évora, Portalegre, Borba e Estremoz, zonas conhecidas pela histórica variedade de azeitona Galega. Os azeites são frutados e suaves, com um ligeiro toque picante. Aqui, o azeite sempre esteve associado à sobrevivência numa terra de dietas modestas. Pão, azeite e um pouco de alho podiam bastar para uma refeição, simplicidade ainda presente em pratos como a açorda alentejana ou as migas, onde o pão duro renasce com generosas quantidades de azeite. Também aparece em bolos rústicos ainda hoje preparados em pequenas vilas.
Azeite do Alentejo Interior DOP
As planícies extensas e as longas horas de sol tornam esta região ideal para a olivicultura, com coexistência de olivais tradicionais e plantações modernas intensivas. Estendendo-se por Vidigueira, Torrão e Portel, é outro dos motores oleícolas do Alentejo. Aqui, o horizonte é dominado por montados e olivais intermináveis. Os azeites são robustos e encorpados, muitas vezes descritos como redondos e com notas de fruto seco, com a dose certa de amargor para os tornar interessantes. Acompanham especialmente bem pratos de borrego e porco, pilares da gastronomia alentejana, sobretudo nesta zona específica.
Azeite de Moura DOP
Centrado nos concelhos de Moura, Serpa e Vila Verde de Ficalho, este é talvez o azeite português mais conhecido internacionalmente. A região produz azeite desde os tempos romanos, e a própria cidade de Moura alberga um Museu do Azeite. Os azeites daqui são equilibrados e frutados, com um final suave que os torna perfeitos tanto para uso cru como para cozinhar. Moura construiu tal reputação em torno dos seus olivais que é muitas vezes chamada de “capital do azeite português”.
Azeite de Serpa DOP
De menor escala mas rico em tradição, este DOP cobre a área de Serpa e Vila Nova de São Bento. Baseia-se sobretudo na variedade Cordovil de Serpa, produzindo azeites frutados, ligeiramente amargos e suavemente picantes. Estes azeites estão há muito ligados à cultura do pão e do queijo locais. O célebre queijo de Serpa, por exemplo, é muitas vezes degustado apenas com um fio do azeite da região.
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Azeite de Trás-os-Montes DOP
O nordeste montanhoso produz alguns dos azeites mais intensos de Portugal, em terras também de vinhas e soutos de castanheiros. As variedades principais são a Verdeal Transmontana, Madural, Cobrançosa e Cordovil, que dão origem a azeites tipicamente intensos, herbáceos e picantes. Os transmontanos adoram usá-los em feijoadas (como a feijoada à transmontana), carnes assadas e até com castanhas da época. É uma das regiões mais antigas de produção oleícola, com olivais que incluem árvores centenárias. Cidades como Mirandela e Valpaços organizam feiras anuais dedicadas ao azeite, celebrando a colheita.
Azeite da Beira Interior DOP
No interior centro, os olivais crescem entre afloramentos de granito e serras. O clima mais fresco e a altitude conferem aos azeites daqui um perfil mais limpo e delicado, frequentemente descrito como herbal e fresco. As variedades dominantes são a Cordovil e a Galega, que produzem azeites equilibrados, muito apreciados para temperar saladas e guisados de legumes. A história do azeite nesta região está ligada à agricultura em pequena escala e à influência monástica. Belmonte, por exemplo, é sede do Centro de Interpretação do Azeite, instalado num lagar oitocentista onde se pode aprender técnicas de extração e provar azeites locais. Tradicionalmente, as famílias transportavam cestos de azeitonas em burros até ao lagar comunitário, onde a prensagem era feita coletivamente e o azeite repartido entre todos.
Azeite do Algarve DOP
O Algarve pode ser mais famoso pelas praias, mas o azeite é aqui cultivado desde a Antiguidade. Os azeites da região, produzidos sobretudo a partir das variedades Maçanilha e Picual, são mais suaves e frutados, com notas de amêndoa ou maçã. Funcionam particularmente bem para finalizar pratos de marisco, desde sardinhas assadas a salada de polvo. Em localidades como Moncarapacho ou Tavira encontram-se ainda oliveiras milenares que continuam a dar fruto.
Outras regiões tradicionais de produção de azeite em Portugal
Para além das áreas oficialmente reconhecidas como DOP, há outros recantos de Portugal onde o azeite continua a ser parte fundamental da cultura alimentar local, mesmo que as garrafas não exibam selo de certificação. Muitas vezes produzidos em pequena escala, vendidos diretamente em mercados ou consumidos apenas dentro da própria comunidade, estes azeites podem ser tão distintivos como os dos territórios mais consagrados.
O Ribatejo é um bom exemplo. Ao longo do Tejo, esta região fértil habituou-se a usar o azeite para dar sabor aos pratos mais simples e tradicionais da lezíria. É o caso das enguias fritas em azeite, prato emblemático em vilas como Salvaterra de Magos, ou do torricado, fatias de pão tostado pinceladas com alho e azeite, que em tempos foram o almoço típico dos trabalhadores rurais. Os azeites ribatejanos costumam ser suaves e equilibrados, ideais para o dia a dia.
Mais a norte, no Vale do Douro, famoso em todo o mundo pelo vinho, o azeite sempre partilhou discretamente os mesmos socalcos íngremes. Muitas quintas vinícolas produzem também azeite, geralmente encorpado e estruturado, que é frequentemente apresentado em provas ao lado de vinhos do Porto e outros vinhos de mesa locais.
Mais perto de Lisboa, os olivais marcam a paisagem nas zonas de Mafra, Torres Vedras e Setúbal, originando volumes modestos de azeite que na maioria das vezes se destinam ao consumo local. Até no noroeste mais húmido, onde os ventos atlânticos dificultam a olivicultura, há pequenos olivais em vales abrigados do Alto Minho. A produção é diminuta e destinada sobretudo ao consumo familiar, mas confirma o facto de que as oliveiras, de uma forma ou de outra, fazem sempre parte da paisagem agrícola portuguesa.
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O azeite nos arquipélagos portugueses
Embora a produção se concentre no continente, também vale a pena mencionar o que acontece nas ilhas. Nos Açores, o clima atlântico húmido não favorece a olivicultura, pelo que a agricultura local se centrou noutros cultivos, como o leite, o chá e o ananás. Ainda assim, há pequenos olivais experimentais, nomeadamente em microclimas mais secos de ilhas como o Pico. Para já, o azeite é importado do continente e usado na cozinha açoriana tal como em qualquer outra região do país.
Na Madeira, encontram-se oliveiras dispersas pela ilha, mas a produção nunca se desenvolveu em larga escala devido ao relevo acidentado e à prioridade dada a outros cultivos, como o da cana-de-açúcar, da banana e da vinha. Algumas famílias mantêm olivais de pequena dimensão para consumo próprio, mas a produção comercial é praticamente inexistente. Aqui também o azeite continental satisfaz a procura, sendo amplamente usado na cozinha local, mesmo sem ser produto autóctone.
Compreender os diferentes tipos de azeite português
Imagem cortesia de Receitas Globo
Ao comprar azeite em Portugal, a primeira coisa que salta à vista nos rótulos é a categoria. A que deve procurar é o azeite virgem extra, a forma mais pura, extraído mecanicamente sem recurso a calor nem a químicos. Logo abaixo está o azeite virgem, com uma acidez ligeiramente superior e menos intensidade de sabor. Depois há a categoria mais genérica simplesmente designada azeite, normalmente uma mistura de azeite refinado com uma percentagem de virgem ou virgem extra para melhorar o sabor. Este azeite mais simples tem um gosto neutro, ideal para cozinhar ou fritar, situações em que usar uma garrafa premium se tornaria menos perceptível e, claro, também menos económico.
Qualquer coisa rotulada como lampante é imprópria para consumo direto e destinada a refinação industrial. Este era o azeite que, em tempos, se usava para acender lamparinas (daí o nome) mas, de qualquer forma, não o vai encontrar nos supermercados. Nas lojas, o que se encontra é azeite virgem extra, virgem ou refinado (isto é, misto) e, mesmo com variações de qualidade, todos eles são considerados bastante bons.
Nas cozinhas portuguesas é comum haver dois tipos de azeite: uma garrafa de azeite virgem extra de qualidade superior para finalizar pratos e temperar saladas, e um azeite mais económico, normalmente em garrafões grandes, para cozinhar. O orçamento também conta, já que um litro de azeite corrente custa bastante menos do que a mesma quantidade de virgem extra, explicando por que se encontram os dois lado a lado em tantas das nossas despensas.
Na escolha de um azeite português há três características de sabor a ter em atenção: frutado, amargo e picante. O equilíbrio entre estas notas define o estilo. Um azeite mais verde de Trás-os-Montes pica na garganta com um travo apimentado, enquanto um azeite do Alentejo costuma ser mais suave e ligeiramente aveludado. Os azeites do Algarve são geralmente mais frutados, com aromas de maçã ou amêndoa, e os da Beira Interior destacam-se pelas notas herbáceas.
A altura da colheita também influencia o resultado na garrafa. Azeitonas apanhadas ainda verdes dão menos azeite mas mais intensidade, com sabores fortes, amargos e salientes, perfeitos para finalizar pratos ou molhar pão. Já as azeitonas mais maduras produzem azeites mais suaves, ideais para cozinhar, mas com maior nível de acidez.
Para muitos visitantes é surpreendente perceber até que ponto o azeite faz parte da vida em Portugal. Os garrafões de 5 litros são presença habitual nas despensas dos portugueses, comprados depois de cada apanha, muitas vezes diretamente a pequenos produtores. As garrafas mais pequenas ficam reservadas para a mesa, sobretudo para temperar sopas, saladas ou peixe grelhado.
Convém ainda esclarecer alguns mitos. Muitos rótulos incluem a expressão “extraído a frio”, mas por lei todo o azeite virgem extra é extraído a frio, sendo mais uma jogada de marketing do que uma distinção real. A cor também não é um indicador fiável, pois há excelentes azeites dourados, não apenas verdes. E um preço mais alto não garante automaticamente maior qualidade. Por vezes, o valor simplesmente reflete apenas a embalagem ou o facto de ser um produto de maior estatuto, talvez destinado à exportação.
Nos rótulos vale a pena verificar o ano da colheita. Quanto mais recente, melhor, já que o azeite não melhora com o tempo e garrafas com mais de dois anos perdem grande parte do aroma e do sabor. A acidez, frequentemente indicada, pode ser enganadora. Nos azeites virgem extra e virgem, valores mais baixos (até 0,8% para virgem extra, até 2% para virgem) indicam que as azeitonas estavam sãs e foram prensadas rapidamente. Já nos azeites refinados, simplesmente rotulados como azeite, a acidez costuma ser baixa (cerca de 1% ou menos), não por frescura, mas porque o processo químico corrige imperfeições. Estes são perfeitamente aceitáveis para cozinhar, mas sem a complexidade dos azeites virgens.
Para garantir que está a provar algo genuíno e regional, procure o selo DOP (Denominação de Origem Protegida). Este certifica não apenas a origem, mas também o uso de variedades de azeitona e métodos tradicionais de uma determinada área.
Como provar e escolher azeite como um verdadeiro Português
Em Portugal, provar azeite não é um ritual reservado a especialistas. É algo que qualquer pessoa pode fazer, e os portugueses quase que crescem com o instinto de distinguir um bom azeite de um mau. Quem visita pode facilmente adquirir essa sensibilidade com alguns truques simples.
Comece pelo básico. Um bom azeite virgem extra deve cheirar a fresco, nunca a ranço ou gordura pesada. Deite um pouco num copo, aqueça-o ligeiramente com a mão e inspire. As notas podem variar entre relva cortada, maçã, folha de tomate ou amêndoa, dependendo da região e da colheita. Depois prove e deixe o azeite envolver a boca. Preste atenção a três sensações: o frutado no início, o amargo no meio e um toque picante no fundo da garganta. Esse ligeiro ardor que faz tossir é, na verdade, sinal da presença de antioxidantes benéficos. Há até quem brinque com a “regra das três tosses”, sendo que os melhores azeites devem fazê-lo tossir mais de uma vez.
Imagem cortesia de Gourmet da Vila
Há ainda algumas dicas de iniciados a ter em conta. Todas as primaveras, o Alentejo acolhe o concurso de azeite mais prestigiado do país, e as garrafas premiadas costumam exibir medalhas douradas, uma forma fiável de escolher um bom azeite na prateleira. Nos supermercados, sobretudo em novembro e dezembro, quando chega a nova colheita, pode até encontrar provas gratuitas que permitem comparar estilos antes de comprar.
Para ajudar a navegar os rótulos, eis um pequeno glossário dos termos mais comuns:
- Azeite virgem extra: a melhor qualidade.
- Azeite virgem: natural, mas menos intenso.
- Acidez: idealmente abaixo de 0,8% para o virgem extra.
- Lagar: o espaço onde as azeitonas são prensadas, seja em lagares tradicionais de pedra ou em equipamentos modernos de aço.
- DOP (Denominação de Origem Protegida): garante a origem e os métodos de produção ligados a uma região específica.
Desde 2014, os restaurantes em Portugal estão legalmente obrigados a servir azeite em recipientes fechados e rotulados, uma medida criada para acabar com o antigo hábito de preencher galheteiros com azeites de menor qualidade. Na prática, a regra raramente é fiscalizada. E, a ser seguida à risca, gera um enorme desperdício, já que o azeite que fique na mesa terá de ser descartado após uma única utilização.
O olivoturismo em Portugal
Se o vinho continua a ser a estrela do turismo gastronómico português, o azeite começa a ganhar cada vez mais protagonismo. Quem deseja compreender verdadeiramente a cultura alimentar do país pode hoje explorar olivais, visitar lagares em pleno funcionamento, passear entre árvores com vários séculos de vida ou entrar em museus dedicados à história do azeite. Uma experiência típica de olivoturismo pode incluir uma caminhada guiada pelo olival, a explicação das técnicas de apanha e extração, e uma prova orientada onde se aprende a identificar o frutado, o amargo e o picante de cada azeite. Em algumas quintas, os visitantes podem até participar na apanha, colher azeitonas à mão ou assistir em direto ao processo de moagem.
Imagem cortesia de Visit Évora
Cada região com azeite DOP tem algo a oferecer. No Alentejo, a maior região produtora do país, herdades modernas convivem com olivais tradicionais, e as provas de azeite são muitas vezes combinadas com experiências vínicas. Em Trás-os-Montes, a paisagem agreste e os pequenos lagares tradicionais dão a conhecer algumas das oliveiras mais antigas do país. Na Beira Interior, os olivais crescem entre serras e formações graníticas, e a região celebra o azeite com feiras de inverno e centros interpretativos. Até o Algarve, mais conhecido pelo seu litoral, oferece quintas onde é possível passear entre árvores milenares e provar azeites mais suaves e frutados, típicos do sul.
O azeite também marca presença no calendário cultural. Em Moura, no Alentejo, organizam-se festivais que celebram a campanha da azeitona. Em Trás-os-Montes, localidades como Valpaços e Mirandela promovem feiras onde não faltam provas, mercados e música, destacando não só o azeite mas também outros produtos regionais. No centro do país, as tradicionais Feiras do Azeite animam as praças das vilas no inverno, reunindo pequenos produtores que apresentam os primeiros azeites da temporada. Para quem viaja, estes eventos são uma oportunidade de provar, comprar e perceber como o azeite é um elemento essencial da cultura gastronómica portuguesa.
Para os que querem viver experiências concretas, eis alguns lugares a não perder:
Esporão
Mesmo que já tenha provado os vinhos do Esporão, visitar a herdade perto de Reguengos de Monsaraz revela uma outra faceta da cultura alentejana. Além das vinhas, o Esporão tem um dos lagares mais avançados do país, onde produz alguns dos azeites virgem extra mais premiados de Portugal. A propriedade combina arquitetura contemporânea com a paisagem de planícies intermináveis e oliveiras centenárias, oferecendo uma visita que une escala e beleza. O ponto alto é a Visita ao Lagar com Prova de Azeite, que consiste numa visita guiada à zona de produção, com explicações sobre os diferentes métodos de extração e a sua influência no sabor, seguida de uma prova orientada de três azeites premium da marca. As provas decorrem no Wine Bar, conduzidas por técnicos especializados. Para além do azeite, a herdade oferece também provas de vinhos, menus sazonais no restaurante (com foco em ingredientes regionais), e atividades ao ar livre que aproximam os visitantes da paisagem envolvente.
📍Herdade do Esporão, 7200-999 Reguengos de Monsaraz
https://esporao.com/en/tourism
Imagem cortesia de Esporão
Barrocal
Encaixado no campo perto de Monsaraz, o São Lourenço do Barrocal proporciona uma experiência de olivoturismo mais intimista. Esta herdade familiar aposta numa agricultura sustentável e não intensiva, com olivais onde algumas árvores têm vários séculos. A visita normalmente começa com um passeio pelo olival, onde os guias explicam o ciclo de cultivo e a importância da biodiversidade. Segue-se o lagar da propriedade, onde se observa como o saber tradicional se alia à tecnologia moderna para produzir azeite virgem extra cheio de caráter. As provas são práticas e sensoriais, incentivando os visitantes a cheirar, provar e comparar diferentes estilos.
📍7200-177 São Lourenço do Barrocal
https://barrocal.pt/pt/all-activities/olive-oil-experience
Imagem cortesia de Barrocal
Casa Féteira
No coração do Ribatejo, a Casa Féteira oferece uma das experiências de olivoturismo mais completas perto de Lisboa. Os visitantes são recebidos numa herdade tradicional, onde os percursos guiados incluem caminhadas pelo olival, explicações sobre a apanha e as técnicas de cultivo, e uma visita ao lagar, onde se aprende como a azeitona se transforma em azeite. Nas provas, é possível comparar colheitas e estilos distintos. A Casa Féteira organiza ainda experiências sazonais, como a participação na apanha no outono, seguida de refeições rústicas confecionadas com os seus azeites.
📍Rua da Capeleira 6, Tremoceira, 2480-113 Porto de Mós
https://casafeteira.com/en/olive-tourism
Imagem cortesia de Turismo Porto de Mós
Acushla
Localizada em Vila Flor, em Trás-os-Montes, a Acushla é uma herdade moderna dedicada ao azeite biológico. O nome Acushla vem do gaélico irlandês e significa “batida do meu coração”, uma referência à ligação pessoal do fundador com os olivais. A propriedade cultiva mais de 300 hectares de oliveiras, combinando tecnologia de extração de ponta com um profundo respeito pelo ambiente. Os visitantes podem passear pelos olivais, aprender sobre práticas agrícolas sustentáveis e observar o lagar moderno em funcionamento. As provas revelam os sabores intensos e picantes que tornam os azeites transmontanos tão distintos. A Acushla já conquistou vários prémios internacionais, sendo hoje uma das marcas portuguesas mais reconhecidas no estrangeiro.
📍Quinta do Prado, 5360-080 Lodões, Vila Flor
www.acushla.com/acushla-olive-grove
Imagem cortesia de Acushla
Casa Anadia
Em Ferreira do Zêzere, a Casa Anadia alia o olivoturismo a séculos de história. A herdade, que remonta ao século XVIII, inclui vinhas e olivais, tornando-se um destino onde o vinho e o azeite se complementam. A experiência começa com uma visita guiada ao olival e continua no lagar, onde são explicadas técnicas tradicionais e modernas de produção. As provas dão a conhecer azeites premiados pela sua frescura e equilíbrio. A herdade valoriza também o seu cenário histórico, com a casa senhorial e os jardins que evocam a vida aristocrática do centro de Portugal. É possível reservar visitas focadas apenas no azeite ou experiências conjuntas de vinho e azeite.
📍Alameda do Ramal, 2200-484 Abrantes
https://casaanadia.pt/en/olive-tourism
Imagem cortesia de Casa Anadia
Amor é Cego
Nos arredores de Évora, o projeto Amor é Cego oferece uma das experiências de azeite mais pessoais do Alentejo. A herdade, Monte da Oliveira Velha, é lar de oliveiras Galega centenárias cultivadas de forma biológica, com uma filosofia que privilegia a qualidade em detrimento da quantidade. Em 2024, por exemplo, a produção totalizou apenas 680 litros. As visitas duram cerca de 75 minutos e incluem uma caminhada entre os olivais, histórias sobre a variedade Galega e uma prova de azeite virgem extra premiado, feita à sombra de uma oliveira com mil anos. A experiência é intimista, pensada para pequenos grupos, e termina com a possibilidade de comprar garrafas diretamente ao produtor.
📍Monte da Oliveira Velha, 7035 Évora
https://azeiteamorecego.pt/en/#visitas
Imagem cortesia de Amor é Cego
Castelo de Marvão Olive Oil Museum & Estate
No Parque Natural da Serra de São Mamede, o Castelo de Marvão combina história e degustação num dos mais belos cenários medievais de Portugal. A herdade integra o Lagar-Museu António Picado Nunes, onde os visitantes começam por explorar olivais tradicionais plantados com a variedade Galega. O percurso inclui explicações sobre o processo de apanha e culmina no lagar restaurado, onde se revivem técnicas seculares. As provas incluem não só os azeites da herdade como também produtos regionais, como queijos, enchidos e pão. Existem dois formatos disponíveis: uma prova curta ou uma experiência mais completa, que junta olival, lagar e harmonizações gastronómicas.
📍Galegos, 7330-063 Marvão
www.facebook.com/lagarantoniopicadonunes
Imagem cortesia de Periferias no Facebook
Museu do Azeite, Belmonte
Belmonte, na Beira Interior, acolhe um dos museus de azeite mais interessantes do país. Instalado num lagar do século XIX recuperado, o Museu do Azeite preserva a maquinaria que serviu durante séculos para esmagar e prensar azeitonas, antes da modernização dos métodos de extração. Pesadas mós de pedra, prensas e talhas de barro contam como o azeite moldou a vida rural. A visita combina história com degustação: no final do percurso, os visitantes são convidados a provar azeites de pequenos produtores da região, conhecidos pelo perfil fresco e herbal típico da Beira Interior. O museu também destaca o papel do azeite nas tradições locais, da cozinha à iluminação e até aos rituais religiosos. A própria vila de Belmonte merece uma visita, com o seu castelo, ruas medievais e a herança da comunidade judaica.
📍Rua da Portela 4, 6250-088 Belmonte
www.cm-belmonte.pt/diretorio/museu-do-azeite/#
Imagem cortesia de EMPDS
Museu da Oliveira e do Azeite, Mirandela
Em Trás-os-Montes, onde o azeite sempre foi vital para a comunidade, Mirandela celebra esse legado no Museu da Oliveira e do Azeite. Instalado em antigas instalações de moagem, o museu preserva uma prensa hidráulica com mais de cem anos. As exposições traçam a história da olivicultura local, desde os olivais romanos até aos azeites robustos e picantes ainda hoje produzidos. É também um espaço para compreender como o azeite moldou a economia do nordeste: explica-se como os pequenos produtores trabalhavam coletivamente nos lagares e como o azeite se tornou símbolo de prosperidade numa região de invernos duros e solos pobres. A visita termina com provas que evidenciam a intensidade típica dos azeites transmontanos, ideais para feijoadas, assados e até para regar castanhas.
📍Tv. Dom Afonso III 17, 5370-516 Mirandela
Imagem cortesia de CM Mirandela
D’Origem – Museu do Azeite, Douro
No coração do Vale do Douro, mais conhecido pelo vinho, encontra-se o D’Origem – Museu do Azeite. Situado numa propriedade familiar, o museu mostra antigos lagares e utensílios usados na produção tradicional. Aqui percebe-se como o vinho e o azeite coexistiram durante séculos nas mesmas encostas em socalcos. O ponto alto é a prova, feita numa sala com vistas deslumbrantes sobre o rio Douro, onde se degustam azeites locais acompanhados de vinhos, valorizando o terroir comum que molda ambos.
📍Rua do Cabo da Rua 4, 5085-010 Casal de Loivos
https://dorigem.pt/en/olive-oil-press
Imagem cortesia de D’Origem
Monterosa Olive Oil Farm
No Algarve, em Moncarapacho, a Monterosa transformou os seus olivais e lagar num destino premiado e aberto a visitantes. O passeio começa entre oliveiras com centenas de anos, seguido da visita ao lagar, onde as azeitonas são prensadas poucas horas após a apanha. As provas são um dos pontos altos, contando com os guias que explicam as diferenças de estilo e por que é que os azeites algarvios tendem a ser mais frutados, com notas de amêndoa, e menos amargos ou picantes do que os do norte. Os azeites da Monterosa já venceram competições internacionais, tornando esta visita uma oportunidade de provar um produto de classe mundial na sua origem. As visitas são feitas em português e inglês, e podem ser reservadas online.
📍EM1332 201F, 8700-068 Moncarapacho
https://monterosa-oliveoil.com/en/experiences
Imagem cortesia de Monterosa no TripAdvisor
Para além dos museus e das visitas a herdades, Portugal celebra o azeite com feiras e festivais que juntam comunidades inteiras. Estes eventos realizam-se geralmente no outono e no inverno, coincidindo com a época da colheita.
No Alentejo, a vila de Moura acolhe todos os anos a Feira Nacional de Olivicultura (OlivoMoura), que reúne produtores de toda a região e inclui provas, workshops e eventos culturais. Quem visita no final de novembro ou início de dezembro pode facilmente combinar a feira com passeios pelas herdades vizinhas. Já em maio, no Alto Alentejo, Campo Maior organiza também a sua própria Feira Nacional de Olivicultura.
Em Trás-os-Montes, a vila de Valpaços promove a Feira do Azeite e do Fumeiro, que combina os azeites robustos da região com os ainda mais famosos enchidos locais. O resultado é uma festa animada da cultura gastronómica do norte, com mercados, música, comes e bebes. Mirandela também organiza anualmente uma feira do azeite, muitas vezes centrada no seu museu, destacando os azeites intensos que caracterizam a chamada Terra Quente.
Mais a sul, localidades da Beira Interior como o Fundão e Idanha-a-Nova promovem as suas próprias feiras do azeite, A Pureza do Azeite e o Festival do Azeite e Fumeiro, onde pequenos produtores enchem as praças das vilas para vender os primeiros azeites da temporada. Estes certames costumam ser menos turísticos, oferecendo aos visitantes a oportunidade de falar diretamente com os agricultores e provar azeites feitos em quantidades muito reduzidas. Até Lisboa recebe pontualmente eventos dedicados ao azeite, em mercados gourmet ou centros culturais, mas para uma experiência mais autêntica nada supera uma visita às regiões produtoras em plena época da apanha.
Onde comprar azeite em Lisboa – e dicas para viajar com ele
Os supermercados são o ponto de partida mais fácil. Supermercados como o Pingo Doce, o Continente e o Auchan vendem uma ampla seleção de azeites, desde opções para uso diário até garrafas premium com selo DOP. Os preços costumam ser mais baixos do que no estrangeiro e, por vezes, até as marcas próprias dos supermercados recebem prémios em concursos nacionais. Para quem tem pouco tempo, comprar uma garrafa num destes espaços é uma aposta segura e dá também uma boa ideia do que os portugueses realmente consomem no dia a dia.
As lojas especializadas, por outro lado, são o lugar certo para encontrar seleções mais cuidadosas, produtores pequenos e embalagens elegantes, ideais para oferecer como presente. Além disso, são os melhores sítios para provar antes de comprar, com funcionários disponíveis para explicar as diferenças entre azeites de várias regiões. Lisboa tem vários endereços a não perder, como estes:
D’Olival
A D’Olival é uma boutique inteiramente dedicada ao azeite e aos seus derivados. Nas prateleiras encontram-se azeites de todo o país, além de tapenades, azeites aromatizados e até cosméticos à base de azeite. Os funcionários orientam provas para que os visitantes possam comparar regiões e aprender a identificar o frutado, o amargo e o picante. É uma loja pequena, local e perfeita para quem quer uma introdução rápida sem sair do centro de Lisboa.
📍Rua Poiais de São Bento 81, 1200-347 Lisboa
Imagem cortesia de Time Out Lisboa
Manuel Tavares
Aberta desde 1860, a Manuel Tavares é uma verdadeira instituição lisboeta. Esta mercearia gourmet, perto do Rossio, vende de tudo um pouco, incluindo enchidos, vinhos, doces e conservas. A seleção de azeites é notável, com rótulos históricos e produtores artesanais mais recentes. Comprar aqui é uma viagem no tempo, com prateleiras de madeira, atendimento atento e um ambiente de tradição. O lugar ideal para juntar azeite a outros presentes gastronómicos.
📍Rua da Betesga 1AB, 1100-090 Lisboa
https://manueltavares.com/pt/produtos/mercearia/azeites-e-vinagres/azeite
Imagem cortesia de Lojas Com História
Manteigaria Silva
Um clássico lisboeta desde 1890, a Manteigaria Silva começou como uma leitaria e tornou-se um templo da mercearia portuguesa. Situada perto do Rossio, a loja tem enchidos pendurados no teto, queijos empilhados, prateleiras de conservas, um cheirinho de bacalhau que se sente ao longe e uma seleção cuidada de azeites. Os funcionários sabem aconselhar azeites que combinam com outros produtos portugueses, seja um pedaço de queijo da ilha ou uma lata de sardinhas. Só pela atmosfera, com os azulejos antigos e o aroma do fumeiro, já vale a visita, mas é também um dos melhores sítios para comprar azeite e outros souvenirs gastronómicos.
📍Rua D. Antão de Almada 1 C e D, 1100-197 Lisboa
https://loja.manteigariasilva.pt/41-azeites
Imagem cortesia de Lojas Com História
LOA – The Olive World
Para quem prefere comprar sem sair de casa, a LOA é uma das melhores lojas online em Portugal dedicadas exclusivamente ao azeite. Reúne azeites de todas as regiões produtoras, incluindo rótulos DOP e variedades biológicas. Também vende packs de prova, condimentos e cosméticos à base de azeite, sendo uma montra única para explorar o azeite português para lá do que cabe na mala. Faz envios internacionais, com embalagens resistentes e pensadas para o transporte seguro.
Imagem cortesia de LOA no Facebook
As feiras e mercados municipais de Lisboa são outra ótima forma de provar e comprar azeite. O Mercado da Ribeira (Av. 24 de Julho), conhecido hoje em dia pelo Time Out Market, recebe muitas vezes pequenos produtores com azeites, mel e vinhos. O Mercado de Campo de Ourique (Rua Coelho da Rocha 104) tem um ambiente mais local, com vendedores permanentes que oferecem azeites regionais a par de enchidos e queijos. Ambos são cenários animados para passear, provar e comprar.
Finalmente, para quem procura conveniência e variedade, o Clube del Gourmet do El Corte Inglés é também uma boa opção. A sua secção alimentar apresenta uma vasta prateleira de azeites, com dezenas de rótulos organizados por região e estilo. Os preços são mais elevados do que nos supermercados, mas a oferta é imbatível e muitas garrafas vêm em embalagens práticas para viagem.
De um modo geral, os preços do azeite em Portugal são bastante simpáticos, apesar de terem aumentado muito nos últimos anos, sobretudo para os consumidores locais. Uma garrafa premium de meio litro, numa loja especializada, custa normalmente entre 10€ e 20€. Nos supermercados, encontram-se ótimos azeites por menos de 8€. Tendo em conta as margens de lucro que estes mesmos azeites teriam no estrangeiro, vale a pena aproveitar e abastecer, mesmo que seja apenas com opções para uso quotidiano. Não complique demasiado e pense que uma garrafa de azeite novo do Alentejo comprada no supermercado bate facilmente muito do que é vendido como gourmet noutros países, claro está, dependendo de onde viva.
Depois da escolha feita, seja para si ou para oferecer, vem a questão de como transportar. A embalagem faz a diferença, sendo que latas pequenas ou garrafas de 500ml são práticas e encontram-se mais facilmente em lojas especializadas do que em supermercados. As latas têm a vantagem de serem mais leves e menos frágeis, mas as garrafas de vidro são mais elegantes para oferecer. Muitos produtores portugueses vendem azeites em garrafas de cerâmica decorativas ou em latas com design apelativo, que fazem bonitas lembranças. Lojas como A Vida Portuguesa em Lisboa especializam-se nestas opções mais cuidadas, enquanto os supermercados e os mercados geralmente apostam nos formatos mais simples.
No que toca à bagagem, o azeite tem de ir sempre no porão, já que não é permitido na bagagem de mão. As garrafas de vidro devem ser embrulhadas em roupa, colocadas dentro de sacos de plástico e acondicionadas no centro da mala. As latas são mais resistentes, mas também beneficiam de alguma proteção. Dentro da UE não existem restrições alfandegárias de quantidade para consumo pessoal, mas se viajar para fora convém confirmar as regras da alfândega do seu destino. A maioria dos países permite pelo menos um litro por passageiro, embora muitos viajantes levem mais sem problemas.
Para quem não tem tempo, resta a opção das lojas duty free nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, onde há sempre azeites portugueses, muitas vezes em embalagens próprias para transporte e até para oferta. Os preços são, naturalmente, mais elevados do que nos supermercados, mas a conveniência por vezes compensa.
O azeite faz parte da vida quotidiana em Portugal, e os viajantes que o provarem nas diferentes regiões, ou que simplesmente selecionem uma boa garrafa em Lisboa, vão certamente levar consigo uma visão mais completa da cultura gastronómica do país. Para mais dicas locais sobre a gastronomia portuguesa, siga a Taste of Lisboa no Instagram.
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