Guia de viagem gastronómica a Évora

Se estando em Lisboa lhe apetecer um dia mais calmo, mais silencioso e com outro ritmo, recomendamos uma escapadinha a Évora. Esta cidade do Alentejo fica a apenas 130km a leste da capital e oferece uma experiência bastante diferente, especialmente atrativa para quem valoriza gastronomia, vinhos, cultura e história. Desde 1986 que Évora tem estatuto de Património Mundial da UNESCO.
Imagem de capa cortesia de Visit Alentejo
Imagem cortesia de Câmara Municipal de Évora
É verdade que é possível visitar Évora num dia, desde que se saia cedo de manhã, mas se tiver tempo, o ideal mesmo é aproveitar um fim de semana inteiro. Assim, dá para explorar não só a cidade como também fazer algumas paragens muito interessantes pelo caminho. Montemor-o-Novo, com as ruínas do seu castelo e vistas panorâmicas, é uma boa paragem logo de manhã. Arraiolos, mais adiante, é uma vila conhecida pela tradição ancestral dos tapetes bordados à mão, assim como também pela boa cozinha alentejana. Ambas representam bem o carácter rural do Alentejo e merecem estar nos planos, sobretudo para quem vai de carro.
Se não quiser conduzir, saiba que Évora é bastante acessível também em transportes públicos. Os comboios a partir das estações de Entrecampos ou Oriente em Lisboa demoram cerca de 90 minutos, e os autocarros que partem de Sete Rios têm tempos semelhantes – visite os sites da FlixBus ou da Rede Espressos para conferir horários e preços. São boas opções se o plano for ficar pelo centro da cidade. Mas, para quem quer parar pelo caminho ou visitar locais fora de Évora, alugar um carro é, sem dúvida, a melhor solução. Assim pode ir a sítios de difícil acesso com transportes públicos, como o Cromeleque dos Almendres, um recinto megalítico no meio do campo, ou até a adegas locais (veja mais abaixo as nossas sugestões), que não funcionam muito bem quando se depende do horários dos autocarros.
Imagem cortesia de Câmara Municipal de Évora
Chegando a Évora, o centro histórico é fácil de explorar a pé. Uma boa forma de começar é na Praça do Giraldo, o principal ponto de encontro da cidade desde o século XVI. Há uma fonte barroca em mármore, edifícios com arcadas, cafés com esplanada e a Igreja de Santo Antão. Dali, suba a Rua 5 de Outubro até à Sé Catedral de Évora (Largo do Marquês de Marialva), uma imponente catedral em granito do século XII. O interior é relativamente sóbrio, mas os terraços no topo estão abertos ao público e oferecem vistas incríveis sobre os telhados da cidade e os campos em redor.
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A poucos metros, encontra o Templo Romano (Largo do Conde de Vila Flor), muitas vezes chamado Templo de Diana, apesar de não haver provas de que tenha sido dedicado a essa deusa. Provavelmente foi construído no século I e é um dos monumentos romanos mais bem preservados da Península Ibérica. Fica mesmo ao lado do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, que tem uma coleção pequena mas interessante de artefactos romanos, arte sacra medieval e pintura regional alentejana.
Depois, pode regressar em direção ao centro e visitar o edifício da Câmara Municipal (Praça do Sertório). No rés do chão, encontram-se as Termas Romanas de Évora, descobertas em 1987, onde se destaca o laconicum, uma sala circular usada como sauna.
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Uns minutos a sul está um dos pontos mais famosos e, para alguns, mais inquietantes, de Évora: a Capela dos Ossos (Praça 1º de Maio 4). Fica dentro da Igreja de São Francisco e foi construída no século XVII por monges franciscanos. As paredes estão revestidas com milhares de ossos e crânios humanos, provenientes de cemitérios que estavam sobrelotados. A entrada tem uma inscrição onde se lê: “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”.
Para algo diferente, siga o traçado do Aqueduto da Água de Prata, do século XVI, construído para abastecer a cidade. À medida que entra na zona urbana, é curioso ver como casas e pequenas lojas foram construídas diretamente entre os arcos. O troço mais pitoresco passa pela Rua do Cano, mas os arcos mais altos vêem-se melhor junto à Porta da Lagoa, já fora do centro.
Se quiser fazer uma pausa do centro histórico, vá até à Universidade de Évora, mais concretamente ao Colégio do Espírito Santo (Largo dos Colegiais 2), fundado no século XVI. O edifício funciona ao mesmo tempo como universidade ativa e monumento histórico, com claustros, corredores revestidos a azulejos e detalhes arquitetónicos barrocos.
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Se estiver a viajar de carro, vale a pena sair da cidade perto da hora do pôr do sol e conduzir até ao Cromeleque dos Almendres (Vila de Nossa Senhora de Guadalupe), um círculo de pedras megalíticas que se acredita ser mais antigo até do que o Stonehenge! São quase 100 monólitos de granito, dispostos em círculos concêntricos e alinhados com os solstícios, uma evidência impressionante de observação astronómica na pré-história. Perto dali fica também a Anta Grande do Zambujeiro (Herdade da Mitra, Valverde), um dos maiores dólmenes da Península Ibérica.
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Quando se fala de comida, o Alentejo é muitas vezes apelidado de “celeiro de Portugal”, e não apenas pela produção de cereais em si. O pão tem um papel central na cozinha da região, ao ponto de muitos pratos tradicionais terem como base o pão alentejano, um pão denso, de côdea grossa e miolo macio. Em vez de deitar fora o pão duro, os alentejanos criaram receitas como a açorda, em que se mergulha o pão num caldo de alho e coentros com azeite, finalizado com ovo escalfado ou bacalhau. Outro exemplo são as migas, em que o pão é esfarelado e frito com gordura (muitas vezes banha, mas não obrigatoriamente), servidas como acompanhamento de carnes grelhadas. Esta forma de cozinhar está diretamente ligada ao estilo de vida rural e a tempos de escassez.
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A carne de porco, em particular a do porco preto, que costuma andar solto no montado a comer bolotas entre o Outono e a Primavera, é um elemento central da alimentação. Esta raça é muito apreciada pelo marmoreado da carne e no Alentejo aparece em pratos como secretos ou plumas, além de guisados feitos com miúdos. O cordeiro e o borrego também são comuns, especialmente na primavera, sendo o ensopado de borrego, um guisado servido sobre fatias de pão, um verdadeiro clássico. Apesar de Évora ser uma cidade do interior, o peixe também marca presença, sobretudo na sopa de cação, feita com cação marinado em vinagre e alho, depois cozinhado num caldo de coentros. Se não conseguir ir até Évora desta vez, pelo menos aproveite para visitar alguns dos melhores restaurantes alentejanos em Lisboa, onde pode provar esta cozinha incrível que muitos consideram a melhor de Portugal.
Imagem cortesia de Restaurante Fialho via TripAdvisor
Os doces de Évora, como em muitas zonas do país, têm forte influência conventual. Muitos dos doces típicos da cidade foram criados em conventos, onde se usavam grandes quantidades de gemas, muitas vezes porque as claras eram utilizadas para clarificar vinho ou engomar roupas. As receitas passaram de geração em geração e, na sua maioria, mantêm-se inalteradas. Entre os mais conhecidos estão o pão-de-rala, feito com amêndoa, gemas e açúcar e moldado em forma de pão; a encharcada, uma sobremesa à base de gemas mergulhadas em calda de açúcar; e as queijadas de Évora, pequenos bolos feitos com requeijão, ovos e açúcar. Estes doces encontram-se facilmente nas pastelarias da cidade (veja abaixo as nossas sugestões).
Imagem cortesia de João Fructuosa via Pixabay
O Alentejo é também uma das regiões vitivinícolas mais produtivas e conhecidas de Portugal, e Évora está rodeada de vinhas. A zona é famosa pelos seus vinhos tintos, geralmente encorpados, feitos com castas locais como Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet. Estes vinhos combinam na perfeição com os pratos de carne da região. Os brancos, feitos com Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, são muitas vezes frescos e minerais, embora possam também ser mais redondos e aromáticos, dependendo do produtor e do estilo de vinificação. Uma característica única da região é a produção de vinho de talha, vinificado e envelhecido em grandes ânforas de barro chamadas talhas. Esta técnica remonta ao tempo dos romanos e ainda é usada hoje em dia, especialmente em Vila de Frades e Reguengos de Monsaraz. Pode provar vinhos locais nos muitos restaurantes de Évora ou até comprá-los para levar para casa, em lojas especializadas ou supermercados. Mas visitar uma adega pode ser uma experiência ainda mais interessante, sobretudo para perceber os métodos tradicionais de produção e a importância do vinho na economia local. Muitas adegas (como as que destacamos abaixo) oferecem provas e visitas guiadas, mas é o tipo de atividade que se faz mais facilmente com carro (e condutor designado que não beba!), ou pelo menos sem grande limitação de orçamento para chamar um táxi.
Os melhores restaurantes portugueses em Évora
Fialho
O Fialho é um dos restaurantes mais respeitados de Évora e representa com excelência o património gastronómico do Alentejo. Aberto desde 1945, continua a ser frequentado tanto por locais como por quem visita a cidade e leva a sério a cozinha tradicional da região. O menu é dedicado aos clássicos alentejanos: bochechas de porco preto estufadas, perdiz com vinho e alho, lombo de javali com puré de maçã, entre outros. Muitas destas receitas foram preservadas por Manuel Fialho, o fundador do restaurante, conhecido por ser um dos maiores guardiões da tradição gastronómica alentejana. A carta de sobremesas dá destaque aos doces conventuais, como as queijadas e a encharcada. Depois de já ter recebido várias gerações com a sua hospitalidade genuinamente alentejana, o Fialho continua a ser um lembrete de que a cozinha do Alentejo merece ser saboreada sem pressas.
📍Tv. das Mascarenhas 16, 7000-557 Évora
www.instagram.com/restaurantefialho
Imagem cortesia de Walter N via TripAdvisor
Taberna Típica Quarta-feira
Se andar a perguntar por Évora onde é que os locais realmente gostam de comer, é muito provável que alguém fale na Taberna Típica Quarta-feira. Mas não é fácil conseguir mesa, pois o restaurante só abre alguns dias por semana e costuma estar sempre cheio. Além disso, por estes lados não há ementa. Sente-se à mesa e confie na equipa da cozinha. Os pratos chegam à mesa um atrás do outro, muitas vezes em doses bem generosas, como manda a tradição. Costumam servir-se pratos como sopa de tomate com ovo escalfado, carne de porco de alguidar com migas, ou bacalhau daquele que lasca mesmo bem. Cada refeição é diferente, dependendo do que há disponível e do que o chef, normalmente o Senhor Domingos, que dirige a casa desde 1981, decide cozinhar naquele dia. Se não tiver amigos alentejanos que o recebam em casa, esta taberna é provavelmente a forma mais próxima de provar comida caseira como se fosse convidado.
📍Rua do Inverno 16, 7000-599 Évora
www.instagram.com/taberna_tipica_quarta_feira
Imagem cortesia de Taberna Típica Quarta-feira via Facebook
Botequim da Mouraria
O Botequim da Mouraria é uma pequena tasca na zona da Mouraria, em Évora. Tem apenas dez lugares ao balcão e, como a comida é excelente, não é raro ver uma fila à porta antes mesmo de abrir ao almoço. Tenha em atenção que só funciona durante a semana e apenas durante algumas horas, por isso convém chegar com antecedência. Também não há ementa em papel: os pratos vão sendo anunciados à medida que saem da cozinha, muitas vezes num pequeno quadro de ardósia ou simplesmente explicados na hora. A comida é despretensiosa mas cheia de sabor. Servem-se petiscos como ovos de codorniz com flor de sal, pimentos assados, peixinhos da horta ou várias preparações com porco e enchidos. Apesar do espaço reduzido, o Botequim da Mouraria proporciona uma das experiências de almoço mais autênticas da cidade.
📍Rua da Mouraria 16A, 7000-585 Évora
www.instagram.com/botequimdamouraria
Imagem cortesia de Câmara Municipal de Évora
Dom Joaquim
O Dom Joaquim não é daqueles restaurantes da moda, mas oferece uma experiência gastronómica cuidada, com serviço atencioso e toalhas brancas que remetem para uma certa elegância clássica. A carta aposta nos grandes clássicos alentejanos, com alguns toques subtis de sofisticação que valorizam as receitas sem lhes tirar identidade. A açorda de bacalhau, com o seu caldo de coentros e alho servido sobre fatias generosas de pão, é rica sem ser pesada, e vem acompanhada de um bom lombo de bacalhau escalfado. O porco preto grelhado chega à mesa com batatas crocantes e legumes da época, deixando que a qualidade da carne brilhe por si só. E o ensopado de borrego, um guisado intenso servido sobre pão, ganha frescura com um leve toque de hortelã que ajuda a equilibrar a gordura da carne. Para a sobremesa, vale a pena apostar nos doces conventuais como a sericaia com ameixas de Elvas, assim como outras sobremesas regionais que mais dificilmente encontrará fora do Alentejo.
📍Rua dos Penedos 6, 7000-537 Évora
www.instagram.com/domjoaquimrestaurante
Imagem cortesia de Visitevora.net
Origens
Se quiser compreender a cozinha alentejana a partir de uma perspetiva sazonal, o Origens é um ótimo lugar para começar. Aqui, os ingredientes locais são mesmo os protagonistas, tratados com respeito, criatividade e atenção ao detalhe, num ambiente acolhedor. A cozinha revisita pratos tradicionais do Alentejo com um olhar contemporâneo. Pode encontrar uma açorda de textura mais elegante ou uma carne de porco à alentejana em que as amêijoas ganham o mesmo destaque que a carne. As doses são generosas, sem serem excessivas, e a escolha dos ingredientes obedece a critérios claros de origem e qualidade, o que facilmente nos faz entender o nome do restaurante. Um dos destaques é o menu de degustação sazonal, em que o chef propõe uma sequência de momentos que contam uma história sobre o território através de combinações inesperadas. A carta de vinhos acompanha esta lógica, com uma curadoria centrada em produtores do Alentejo, incluindo nomes menos conhecidos. O Origens é também um dos melhores restaurantes em Évora para vegetarianos e veganos.
📍Rua de Avis 66, 7000-645 Évora
https://origensrestaurante.com
Imagem cortesia de Origens
Cavalariça Évora
Instalado nas antigas cavalariças do Palácio do Salvador, o espaço do Cavalariça mistura história com um toque de modernidade. Integra uma nova vaga de restaurantes contemporâneos no Alentejo que, sem abdicar dos produtos da região, trazem à mesa técnicas globais e uma apresentação mais atual. A carta gira à volta de pratos pensados para partilhar, com ingredientes maioritariamente locais mas sem medo de ousar. Dependendo da época, pode encontrar lombinhos de porco preto com mole de pimentos fumados, pato com puré de favas e molho de laranja, ou migas de cogumelos e feijão verde com gema curada, cogumelos confitados e algas. É uma boa aposta para quem quer evitar refeições demasiado pesadas, sem deixar de provar os sabores do Alentejo. Este não é o sítio ideal para quem procura cozinha tradicional como a que seria servida por uma avó alentejana, mas é um ótimo exemplo do que muitos chefs portugueses mais jovens andam a fazer, isto é, reinterpretar a identidade regional com uma nova perspetiva. O projeto tem também um restaurante irmão na Comporta, mais perto de Lisboa.
📍Palácio dos Duques de Cadaval, Rua Augusto Filipe Simões, 7000-845 Évora
www.cavalarica.com
Imagem cortesia de Cavalariça
O Templo
É fácil passar à frente d’O Templo sem dar por ele, especialmente se estiver distraído com as ruínas romanas ali perto, mas isso seria um erro. Este restaurante pequeno e discreto, escondido numa rua lateral do centro histórico, é daqueles sítios que nos entusiasmam por causa da sua simplicidade, hospitalidade genuína e comida regional irrepreensível. A carta muda ligeiramente consoante a estação e o que houver disponível, mas o foco mantém-se sempre nos sabores do Alentejo. Falamos de migas com carne de porco, açorda de camarão ou cortes bem grelhados de porco preto, tudo preparado de forma simples mas saborosa. Comer n’O Templo é como comer em casa, no melhor sentido possível. O espaço costuma esgotar com frequência, por isso é aconselhável reservar com antecedência. Vai sair de barriga cheia e com vontade de voltar.
📍Rua do Escrivão da Câmara 2B, 7005-524 Évora
www.instagram.com/explore/locations/310928376289953/restaurante-o-templo
Imagem cortesia de O Templo via TripAdvisor
Tua Madre
Mais do que a comida, é sobretudo a filosofia deste restaurante que o faz destacar-se no panorama gastronómico de Évora. O Tua Madre foi fundado pelo chef italiano Francesco Ogliari e pela sua companheira Marisa Tiago, natural de Évora. Juntos partilham o compromisso com a agricultura regenerativa e biológica, colaborando com pequenos produtores locais e desenvolvendo uma carta que varia conforme a sazonalidade e a disponibilidade dos ingredientes. Francesco traz consigo a formação e sensibilidade da cozinha italiana, mas o resultado final é profundamente português, alimentado pelos sabores e ciclos dos campos que rodeiam a cidade. O menu muda com frequência e inclui pratos de massa ou arroz construídos a partir do que a terra dá em cada estação. Pode encontrar combinações inesperadas mas equilibradas, como torchietti com ragù de borrego e beldroegas, ou agnolotti recheados com queijo de cabra, acelgas e manteiga fermentada. A rusticidade e a elegância convivem harmoniosamente neste espaço, algo que se estende também à carta de vinhos, selecionada por Marisa. Aqui encontram-se rótulos naturais e biodinâmicos do Alentejo e de Itália, servidos com conhecimento e contexto.
📍Alcarcova de Baixo 55, 7000-841 Évora
www.tuamadrerestaurante.com
Imagem cortesia de Tua Madre
Tábua do Naldo
Para quem procura aquela sensação de comer onde os locais comem, o Tábua do Naldo é dos sítios mais autênticos onde se pode comer em Évora. Este espaço informal fica dentro do Mercado Municipal, o que já é, por si só, um bom sinal, e tem uma clientela fiel entre os eborenses, graças às doses generosas de comida regional servidas a preços justos. Com cadeiras de plástico, ambiente algo ruidoso e um menu que muda todos os dias e é anunciado num quadro de ardósia escrito à mão, percebe-se facilmente que este restaurante não foi feito a pensar em turistas. A comida é rústica, saciante e, honestamente, muito saborosa. Costumam servir iscas de porco com batatas fritas, ensopado de borrego num caldo rico em alho e colorau, e até sopa de cação, uma receita típica entre a sopa e o ensopado, com cação escalfado, que aqui aparece com mais frequência do que seria habitual noutras zonas, que a preparam mais durante os meses mais frios. Há também uma boa seleção de enchidos, queijos e vinho da casa, a copo ou em jarro, num ambiente sem complicações e totalmente alentejano.
📍Mercado Municipal de Évora (Banca 19), Av. Sanches de Miranda 1, 7005-284 Évora
www.instagram.com/tabuadonaldo
Imagem cortesia de Mara via TripAdvisor
Café Alentejo
Instalado no antigo Palácio dos Sepúlveda, o Café Alentejo conserva ainda muito da imponência do edifício nobre onde se encontra, com tetos altos, arcos e paredes de pedra que mantêm o espaço fresco. Mas a arquitetura pode enganar, pois este é um dos restaurantes mais acessíveis da cidade, com uma cozinha que sabe preparar comida de conforto como poucas, e que define bem o ADN gastronómico do Alentejo. É aqui que muitos locais vêm para comer entrecosto com migas, coelho com molho vilão ou bacalhau assado no forno com grelos salteados (aqui fotografado). Recomendamos que deixe espaço para a sobremesa, já que há opções regionais que vão além da tradicional sericaia ou encharcada. Pode provar, por exemplo, o premiado pudim de queijo de Serpa com molho de laranja ou o torrão real de Évora, um doce conventual feito com gemas e amêndoa, com uma textura densa que faz lembrar o massapão.
📍Rua do Raimundo 5, 7000-661 Évora
https://restaurantecafealentejo.com
Imagem cortesia de Café Alentejo
TascaTosca
Como o nome indica, esta é uma tasca contemporânea, ou seja, uma taberna portuguesa com abordagem moderna à forma como os pratos são preparados e servidos. A base é muito local: pão alentejano de padarias da zona, enchidos de produtores da região e queijos que mostram a força da tradição queijeira alentejana. Mas a forma como tudo se conjuga revela uma vontade de ir mais além do que numa tasca tradicional. Pode-se encontrar, por exemplo, peixinhos da horta com maionese de limão ou alheira embrulhada em massa crocante com doce de tomate, em vez de simplesmente frita com ovo. Há também uma seleção rotativa de saladas e pratos vegetarianos, com vegetais biológicos oriundos de quintas nos arredores de Évora. A carta de vinhos privilegia produtores independentes do Alentejo, sobretudo aqueles que trabalham com intervenção mínima. Venha com amigos e pratique a arte portuguesa de petiscar, sendo que quanto mais pratos pedirem, mais sabores vão poder descobrir.
📍Av. 25 de Abril 177A, 2840-166 Arrentela
https://tascatosca.pt
Imagem cortesia de TascaTosca
O Moinho do Cu Torto
Este restaurante ganha pela originalidade do nome, já que O Moinho do Cu Torto se destaca logo à partida. Mas o que realmente importa aqui é a cozinha, feita com grande respeito pela tradição gastronómica do Alentejo. Entre os pratos preferidos dos clientes habituais estão o borrego assado no forno com alho e louro, a feijoada de javali e as migas de espargos com carne de alguidar, que consistem em pão alentejano bem temperado com alho e espargos verdes, acompanhando carne de porco frita depois de ser marinada em vinha-d’alhos. Mesmo que opte por algo simples como secretos de porco preto grelhados, vai comer muito bem neste restaurante que leva a comida alentejana muito a sério.
📍Rua de Santo André 2A, 7005-206 Évora
www.facebook.com/omoinhodocutorto
Imagem cortesia de O Moinho do Cu Torto via Facebook
As melhores pastelarias em Évora
Pastelaria Conventual Pão de Rala
Poucos sítios em Évora preservam o património doce da região com o mesmo cuidado da Pastelaria Conventual Pão de Rala. Esta pastelaria especializa-se em doces conventuais, ou seja, sobremesas que foram historicamente criadas nas cozinhas dos conventos com grandes quantidades de gema de ovo, açúcar, amêndoa e uma boa dose de criatividade. Apesar de ser possível encontrar versões destes doces noutras pastelarias, aqui seguem-se as receitas originais, com precisão e respeito. Provar estas sobremesas é uma experiência gastronómica, mas também cultural. A especialidade da casa é, sem surpresa, o pão de rala, tratando-se de um doce denso, sem farinha, feito à base de amêndoa e moldado para parecer um pão rústico. No interior, é recheado com doce de gila e fios de ovos. Só este doce já justifica a visita, mas há outros que também valem muito a pena, como as queijadas de Évora, a encharcada e os bolinhos de amêndoa, todos com forte influência da herança conventual na identidade culinária da região.
📍Rua de Cicioso 47, 7000-658 Évora
www.instagram.com/explore/locations/9341375/pastelaria-conventual-pao-de-rala
Imagem cortesia de Joanaassembleia via TripAdvisor
Gema d’Évora
Mesmo na Praça do Giraldo, a Gema d’Évora é daquelas pastelarias onde os locais passam de manhã a caminho do trabalho e os viajantes entram quase sem dar por isso, enquanto se tentam orientar no centro histórico. No expositor há todos os bolos típicos que se esperam numa pastelaria portuguesa, incluindo croissants, queijadas, pão de Deus e mil-folhas. Para quem prefere salgados, recomendamos pedir uma empada de galinha à moda alentejana, com exterior macio e recheio generoso de carne desfiada. É daquelas coisas que se comem quentes ou frias, ao pequeno-almoço ou como lanche, e que transmitem aquele sabor local autêntico. Os pastéis de nata são também uma boa escolha, especialmente se estiver sentado na esplanada com um café e tempo para observar a vida a passar.
📍Praça do Giraldo 16, 7000-508 Évora
www.facebook.com/p/Gema-Devora-100054490268074
Imagem cortesia de Gema d’Évora via Facebook
Pastelaria Violeta
A Pastelaria Violeta está ligeiramente fora do circuito turístico imediato, mas ainda assim a uma curta distância a pé do centro. É uma daquelas pastelarias a que os eborenses vão mesmo pela qualidade, consistência e preços justos. Aqui encontra-se de tudo um pouco, incluindo croissants folhados, salame de chocolate, bolos de amêndoa húmidos e outras especialidades sazonais conforme a época do ano. É um ótimo sítio para tomar um pequeno-almoço à portuguesa, seja com algo doce ou com uma opção mais local e salgada, como uma empada de galinha com massa dourada e estaladiça, recheada com carne suculenta e bem temperada. Boa comida, bom café, atendimento simpático e um espaço interior surpreendentemente amplo fazem da Pastelaria Violeta um local agradável para começar o dia ou fazer uma pausa depois de caminhar pelas calçadas de Évora.
📍Rua José Elias Garcia 47, 7000-609 Évora
www.facebook.com/p/Pastelaria-Violeta-100041655746830
Photo by Pastelaria Violeta via Facebook
Pastelaria Esperança
A Pastelaria Esperança é uma pastelaria clássica, com um menu que praticamente não mudou ao longo das décadas. O que a mantém viva é a clientela local, fiel aos sabores que têm alimentado gerações. As empadas são uma delícia e, para além da clássica de galinha desfiada, também há versões com perdiz, espinafres e outros recheios sazonais que valem a pena provar. São mais compactas do que aquelas empadas gigantes que às vezes se encontram em cafés turísticos, com massa macia e um recheio húmido, bem temperado com um toque de pimenta. A secção dos doces é variada, desde os clássicos das pastelarias portuguesas até às especialidades mais regionais. É um bom sítio para fazer uma pausa a meio da manhã ou da tarde, sobretudo se estiver a explorar zonas mais tranquilas da cidade, fora do centro histórico.
📍Av. Dona Leonor de Oliveira Fernandes 145 A, 7000-609 Évora
Imagem cortesia de JGordicho via TripAdvisor
As melhores adegas para fazer provas de vinho perto de Évora
Adega Cartuxa
Mesmo que acabe por beber algum vinho da Cartuxa durante a refeição em Évora, visitar o local onde tudo começa, a poucos minutos do centro, acrescenta uma nova camada de contexto. Provar o vinho no local onde é feito permite compreender não só o processo de produção, mas também o porquê de o vinho ter aquele sabor. Vê-se a paisagem, aprende-se sobre o solo e as castas, ouvem-se as histórias por detrás de cada rótulo. Isso é especialmente verdade na Adega Cartuxa, uma das mais prestigiadas do Alentejo e casa dos lendários vinhos Pêra Manca. Localizada a poucos quilómetros das muralhas da cidade, a Cartuxa funciona na antiga Quinta de Valbom, que pertenceu aos jesuítas e remonta ao século XVI. Atualmente, é gerida pela Fundação Eugénio de Almeida, uma fundação sem fins lucrativos que apoia projetos culturais e educativos na região. As visitas podem ser feitas em português ou inglês, mediante reserva online. Há desde provas simples com três vinhos, até experiências premium com azeites ou provas verticais de colheitas antigas. Embora todo o portefólio valha a pena explorar, o Pêra Manca tinto continua a ser a estrela da casa, consistindo num vinho encorpado, feito apenas em anos de colheita excecional e com grande potencial de envelhecimento. A gama EA e o Cartuxa branco também são muito apreciados e funcionam como uma boa porta de entrada para o estilo da casa. Ali ao lado, a Enoteca Cartuxa funciona como restaurante e bar de vinhos do grupo. Serve um menu sazonal que é pequeno mas bem pensado para harmonizar com os vinhos, sendo o complemento ideal após uma prova.
📍Q.ta de Valbom, 7001-901 Évora
www.cartuxa.pt/en/wine-tourism
Imagem cortesia de CM Moita
Ervideira
A Ervideira é uma das opções de enoturismo mais acessíveis nos arredores de Évora, com a vantagem de ter tanto um Wine Lounge no campo (a cerca de 30 minutos de carro), como uma loja de vinhos e sala de provas no centro da cidade. Esta flexibilidade torna-a ideal para quem não tem carro mas quer, ainda assim, conhecer o mundo dos vinhos alentejanos para lá das cartas dos restaurantes. Trata-se de uma empresa familiar com raízes na viticultura desde o final do século XIX. Hoje em dia, é gerida pela oitava geração da família Leal da Costa. Os vinhos da Ervideira têm um estilo moderno, com foco na pureza da fruta, na frescura e nas técnicas inovadoras, como o primeiro “vinho invisível” português, um branco cristalino feito a partir de uvas tintas por filtragem suave. As provas adaptam-se ao tempo e interesse de cada visitante, desde uma degustação rápida na loja até passeios pelas vinhas ou experiências tipo piquenique no Wine Lounge fora da cidade. Para os mais curiosos, há a experiência “Enólogo por um dia”, onde é possível criar o próprio vinho, engarrafá-lo e levá-lo consigo.
📍Wine Shop: Rua 5 de Outubro, 56 7000-854 Évora
📍Wine Lounge: Herdade da Herdadinha, Vendinha 7200-042 Reguengos de Monsaraz
https://ervideira.pt/en/experiences
Imagem cortesia de Ervideira
Fita Preta
A cerca de 10 km do centro de Évora, a Fitapreta Vinhos oferece uma das experiências vínicas mais íntimas da região. A adega é liderada por António Maçanita, um dos nomes mais influentes do vinho contemporâneo português, conhecido por combinar investigação científica com respeito pelas castas autóctones e métodos antigos. Apesar de produzir vinhos em várias regiões, é no Alentejo que se encontra o projeto Fitapreta. A adega funciona no Paço do Morgado de Oliveira, uma propriedade medieval parcialmente restaurada que remonta ao século XIV. Este cenário único acolhe as instalações de produção modernas e áreas de prova com muito estilo. É possível marcar visitas simples com degustação ou experiências mais completas com passeios pelas vinhas e harmonizações gastronómicas. A equipa fala várias línguas e apresenta os vinhos com contexto, o que torna a visita acessível a iniciantes e interessante para os mais conhecedores. Há até uma opção pensada para famílias com crianças, algo raro no mundo dos vinhos. Entre os vinhos em destaque estão o Palpite branco, feito com Antão Vaz, Arinto e Roupeiro com estágio em barrica, e o Preta Cuvée, um tinto estruturado e expressivo do terroir alentejano. A Fitapreta também explora métodos minimalistas e técnicas antigas, como o vinho de talha fermentado em ânforas de barro, disponível em edições limitadas.
📍Estrada M527, km10, 7000-016 Évora
www.antoniomacanita.com/en/wineries/fitapreta/wine-tourism-alentejo
Imagem cortesia de António Maçanita
Adega José de Sousa
A Adega José de Sousa distingue-se por fazer algo raro e ancestral. Situada em Reguengos de Monsaraz (como o Wine Lounge da Ervideira), a cerca de 35 minutos a sudeste de Évora, é uma das poucas adegas portuguesas que ainda produz vinho de talha em escala, fermentando e envelhecendo o vinho em grandes ânforas de barro, como faziam os romanos. Esta prática, hoje em dia quase exclusiva do Alentejo, sobrevive principalmente em pequenas aldeias como Vila de Frades. Na José de Sousa, é possível ver esta tradição de perto, num ambiente que combina narrativa histórica com produção real. A cave tradicional alberga dezenas de talhas centenárias, ainda em uso, e a adega opera em paralelo com métodos modernos de vinificação. Isto permite ao visitante comparar diferentes expressões do terroir e das técnicas da região. A propriedade data do século XIX, mas há registos de produção de vinho no local desde muito antes, com achados arqueológicos que assim o comprovam. Desde o início da década de 80 pertence à José Maria da Fonseca, uma das mais antigas marcas de vinho do país, que aqui tem investido tanto na preservação da tradição como na produção de vinhos DOC Alentejo com métodos mais convencionais. As visitas têm de ser marcadas com antecedência e incluem uma visita guiada às duas caves, tradicional e moderna, seguida de prova, ideal para quem se interessa por vinhos naturais e fermentações sem controlo de temperatura.
📍Rua de Mourão 1 7200, Reguengos de Monsaraz
www.instagram.com/adegajosedesousa
Imagem cortesia de José Maria da Fonseca
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